Título: Bancada do Rio exige verba da União
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 27/11/2005, País, p. A2

Os parlamentares da bancada fluminense no Congresso prometem pressionar o Palácio do Planalto - inclusive com obstrução em votações importantes para o governo - a fim de garantir a execução das emendas orçamentárias para o Rio de Janeiro. Deputados acusam o governo federal de ''má vontade'' com o estado, e que a aplicação de recursos da União estaria sendo prejudicada por embates políticos entre os três Poderes. Durante entrevista coletiva concedida na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu dificuldades de relacionamento com a governadora Rosinha Matheus (PMDB) e com o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL).

O prazo para entregar as propostas finais das emendas, que terminaria no dia 24 de novembro, foi prorrogado para terça-feira. Até lá, os parlamentares discutirão alguns pontos e valores estipulados para o orçamento da bancada, que alcançou R$ 2,8 bilhões. São destinados recursos para obras de infra-estrutura em municípios das regiões norte, noroeste e centro-norte; aquisição de um edifício sede para o Ministério Público do Trabalho; recuperação de lagoas como Piratininga, Araruama e Saquarema; construção de 7.790 casas populares; investimentos em infra-estrutura na Baixada Fluminense.

- Nunca houve tanta emenda para a Baixada, cerca de 20% do que previmos para o estado - avaliou o deputado Eduardo Cunha (PMDB).

Para garantir atitude mais firme da bancada parlamentar do Rio com o governo e evitar o constrangimento de colegas da base, quarta-feira os parlamentares substituíram o petista Luiz Sérgio do comando da bancada pelos deputados Alexandre Santos (PMDB), eleito coordenador, Laura Carneiro (PFL) e Simão Sessim (PP).

Na quinta-feira, representantes da bancada terão encontro com o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, para tratar dos recursos fluminenses. Na semana passada, os parlamentares tiveram encontro com os ministros Paulo Bernardo, do Planejamento, e Dilma Roussef, da Casa Civil, quando reforçaram o pedido.

- Não adianta muito, porque sempre termina no eixo Lula e Palocci - diz o senador Roberto Saturnino (PT), referindo-se à política econômica de retenção de gastos conduzida pelo ministro da Fazenda, criticada até mesmo por seus correligionários.

Segundo Laura Carneiro, até agora, do orçamento, preparado pela bancada do Rio para o estado este ano, apenas 5% foi aplicado até o mês de novembro. Além dos compromissos com superávit primário, a deputada afirma que o governo acaba considerando investimento em estatais como a Petrobras e a Eletronuclear como parte do dinheiro que entra no Rio.

- Há má vontade com o Rio. O projeto Rio Criança Maravilhosa, criado em convênio com o Banco Mundial no valor de U$S 100 milhões, não caminhou - reclama a parlamentar fluminense.

A opção pelo confronto com o Planalto pela aplicação do orçamento da bancada, segundo Alexandre Santos, é consensual. Ele afirma que os governos estadual e municipal precisam de reforço da União para investir em saneamento básico e resolver a ''crise violenta'' que assola a saúde no Rio.

Mesmo sendo integrante do governo, o senador petista Roberto Saturnino afirma que há frustração generalizada pelo que chama de discriminação contra o estado. Ele cita investimento que havia sido prometido pelo deputado Jorge Bittar (PT-RJ) como um dos trunfos em sua candidatura a prefeito do Rio, mas que ficou em segundo plano:

- Não nos conformamos em não executar o arco rodoviário, que ligará todas as estradas federais ao Porto de Sepetiba. Isso é prioridade do governo há pelo menos cinco anos - afirma o senador que propôs, na emenda da bancada, a aplicação de R$ 60 milhões para investimento e custeio nas universidades fluminenses.