Título: Além do Fato: O Vazio Político
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 27/11/2005, País, p. A3

A segunda rodada da Pesquisa IBPS-JB aponta para um crescente vazio político no Estado do Rio. Por um lado, a persistente crise, que lenta, mas consistentemente, vem corroendo a legitimidade dos políticos, e por outro, os impasses no âmbito das diversas forças e suas indefinições quanto ao futuro imediato de cada uma, vêm provocando um esvaziamento da política. Para usarmos uma linguagem da economia, podemos dizer que há problemas tanto do lado da demanda quanto do lado da oferta. No primeiro caso, o da demanda política, nota-se um comportamento de refluxo do eleitorado. Esta tendência mostra-se no declínio da avaliação positiva do governo federal, embora tenha melhorado a avaliação do governo estadual. Aumentou o número de eleitores indecisos, assim como, em todos os níveis, cresceu o número daqueles que rejeitam algum dos candidatos aos cargos majoritários, o que parece contraditório com a aproximação das eleições.

Há rejeição para presidente em 72,3%, para governador em 63,2% e de 34,7% para senador. Na eleição para presidente o número dos indecisos ou dos que votariam nulo e branco chega a 33%, o que representa mais que o triplo da média histórica de votos inválidos. Este valor é de 46,7% no caso da eleição para governador do estado. Os votos nulos e brancos oscilam entre um máximo de 33% na eleição para o Senado e um mínimo de 16,8% na eleição presidencial, considerados os votos estimulados.

Por outro lado, no que diz respeito à oferta política, as principais lideranças do estado parecem colocar-se em um prudente compasso de espera, o que provoca um certo desgaste. Os candidatos ao governo do estado aparecem em situação de empate técnico, o que injeta mais indefinição no quadro político sucessório. A governadora Rosinha Matheus, que desponta como a primeira opção em caso de lançar-se candidata à uma reeleição, polarizaria com o prefeito Cesar Maia, repetindo um padrão de divisão política que presidiu as alianças políticas das eleições municipais 2004, ocasião em que o estado se dividiu entre garotinistas e anti-garotinistas, esses últimos, liderados pela coalizão do prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia.

O vazio político acentua-se pelo fato de que essas lideranças não conseguirem firmar seus pretendidos sucessores no quadro político. Uns e outros não têm verdadeiramente peças de reposição para ocupar posições neste tabuleiro que envolve a política regional e nacional. Como não lhes é possível assumir todas as posições, essas lideranças mantêm-se à distância, evitando qualquer definição num contexto ainda muito incerto. Mais um ingrediente a colocar o eleitor também em compasso de espera.

Esta situação captada pela Pesquisa IBPS-JB de novembro nos coloca diante de um perigoso dilema: ou a crise política persiste (e essa é a aposta de certos setores da oposição) e se aprofunda e o vazio político cresce em função direta do desalento popular com a política, ou a crise termina abruptamente, sem as devidas punições (o que tem se mostrado mais que provável) e entreabrimos a porta para os aventureiros, os ¿salvadores da pátria¿, que se apresentarão como ¿novos¿, ¿limpos¿ e ¿incorruptíveis¿. Resta saber se a classe política brasileira tem consciência de suas responsabilidades.