Título: Aumenta o desinteresse pela eleição
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 27/11/2005, País, p. A3

Enquanto os caciques não se decidem e os herdeiros políticos não despontam, o quadro eleitoral do Rio - ao contrário do que seria a tendência natural - se torna a cada dia mais nebuloso, à medida que a eleição se aproxima. Esta é a principal constatação a partir dos resultados da segunda rodada da Pesquisa IBPS-JB, realizada entre os dias 18 e 24. Um dado revelador dá a exata dimensão do desinteresse e do desencanto que tomam conta do eleitor fluminense, refletindo a crise política nacional: em agosto, os entrevistados que votariam nulo, não sabiam em quem votar ou não revelaram o nome do candidato escolhido a governador representavam 20.4%. Agora, a percentagem atinge 34.17%.

Num quadro de crescente indefinição, o grupo político do ex-governador Anthony Garotinho não faz segredo que continua apostando em Sérgio Cabral para governador. Só que os números mais recentes são preocupantes: o senador do PMDB caiu de 26,6%, para 14,25% das intenções de voto, desde o primeiro levantamento, em agosto.

O PMDB de Garotinho já fez consultas ao TRE e a especialistas sobre a situação eleitoral de Rosinha Matheus, que seria um nome alternativo para o caso de o nome de Cabral não emplacar. Há divergência entre os juristas, quando discutem se a governadora é elegível. Alguns convergem no entendimento de que o terceiro governador de uma mesma família configuraria o impedimento - de acordo com a legislação eleitoral - enquanto outra corrente considera o período de governo de Benedita da Silva uma interrupção dessa cadeia.

Quando se leva em conta essa perspectiva, um dos novos cenários da pesquisa IBPS-JB coloca Rosinha Matheus lado a lado com Cesar Maia, como eventuais candidatos a governador. Nessa simulação, Sérgio Cabral foi retirado e Rosinha tem 16,02%, em empate técnico com Cesar Maia (14,6%), aparecendo depois a deputada Denise Frossard (PPS), com 12,92%, e o senador Marcelo Crivella (PRB), com 12,57%.

Quando a simulação elaborada pelos técnicos do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social elimina os caciques, a disputa se mostra equilibrada, apesar do número crescente de indecisos e desencantados. Marcelo Crivella (15,31%), Denise Frossard (15,13%) e Sérgio Cabral (14,25%) empatam tecnicamente. A diferença é que, em agosto, Cabral, com 26,6%, mantinha uma certa distância de Crivella (18,4%) e Denise Frossard (16,6%). Vladimir Palmeira, pré-candidato do PT, refletindo o esvaziamento do partido do Rio, mantém percentagem inexpressiva: 1,4% em agosto, e 1,6% agora.

Quando são examinados os índices de rejeição - um dos principais dados para avaliar as possibilidades de crescimento dos candidatos - a situação melhora muito para Denise e Cabral - com índices inferiores a 3% - e piora para Crivella, com 14, 96%.

Mais visados, Rosinha Matheus e Cesar Maia também apresentam índices de rejeição maiores (19% e 14,78%), se comparados com outros candidatos com menos chances.

Na corrida ao Senado, surge na pesquisa o nome do deputado Francisco Dornelles (PP), que lidera a lista (12,74%) seguido pelo secretário estadual de Saúde, Ronaldo César Coelho (8,23%) e e pela deputada do PFL Laura Carneiro, com 7,17%.

Quando a Pesquisa IBPS-JB avalia o quadro da sucessão presidencial, aparece como número mais significativo a vitória do prefeito de São Paulo, José Serra, sobre Lula por 54,9% a 45,1%, computados apenas os votos válidos no estado. Apesar de suas recentes declarações de amor ao Rio, o desempenho do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin é bem inferior: perderia de Lula por 60,1% a 39,9% num hipotético segundo turno, também computados apenas os votos válidos. Na mesma situação, a simulação de um segundo turno entre Lula e Garotinho, aponta no Estado do Rio um empate técnico: 50,23% para Garotinho e 49,77% para Lula.

A situação piora para Garotinho quando a pesquisa apura os índices de rejeição: no estado onde tem a sua principal base eleitoral, ele também lidera a lista, com 22,74% de rejeição, empatado tecnicamente com Lula, com 21,68%. Serra apresenta um índice bem menor, de 5,93%, bastante inferior ao de Cesar Maia (13,89%).

Na pesquisa estimulada para primeiro turno, Lula (17,43%) também empata tecnicamente com Garotinho (15,75%), seguidos por Serra (11,59%), Cesar Maia (9,65%), Geraldo Alckmin (5,75%) , Heloísa Helena (5,58%) e Cristovam Buarque (1,24%). A soma dos que votam nulo, em branco, não sabem em quem votar ou não responderam atinge 33.01%.

Registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o número 49.819/2005, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social apresenta margem de erro de 3% para mais ou para menos e ouviu 1.100 pessoas em todo o estado.