Título: A crise na moral pública
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/11/2005, País, p. A7
A crise política pela qual o país passa alertou a população para a necessidade de uma revisão de ética no Congresso. O diagnóstico é dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Jefferson Peres (PDT-AM) que participaram do seminário ''Resgatando a Dignidade: Ética, Estado e Sociedade''.
Jefferson Peres alertou para o tema da ética citando o autor português José Saramago. Segundo o senador, o escritor sempre afirma: ''Se a regra de ouro da ética - que diz 'Não faças com os outros o que não gostaria que fizesses contigo' - fosse cumprida por 90% da humanidade, todos os problemas estariam resolvidos''.
- No Brasil a ética na vida pública está em crise de valores. Sem dúvida é um problema cultural e institucional. Não quer dizer que o brasileiro seja menos ético ou menos honesto. Mas aqui há fatores que nos conduzem a este triste estado - analisou Peres.
Para o senador, um dos grandes problemas do país é que a classe política é patrimonialista, confundindo o bem público com o privado.
- República significa 'coisa pública', o que nos foi dado, como parlamentares, para gerir e guardar. Mas na classe política em geral, a coisa pública é vista como coisa de ninguém. Por isso, acham que podem fazer dela o que bem entenderem - atacou.
O senador Pedro Simon acredita que o momento de crise deve ser usado para fazer uma análise.
- É uma vergonha o Congresso não ter votado a Reforma Política para moralizar as eleições de 2006. Um dos pontos principais é a fidelidade partidária. É preciso impor que o voto pertença ao partido. Se sair do partido, perde o mandato - defendeu.
O ex-presidente da República Itamar Franco, crítico mordaz da política econômica do presidente Lula, considera mais grave, no entanto, é que a população brasileira é jovem.
- Acima de tudo penso nesse Brasil especial, em que mais de 84 milhões de pessoas são crianças e jovens de até 24 anos, sujeitos a influências externas e a exemplos que vão formar seu caráter para o exercício pleno da cidadania - afirmou.
Representando o empresariado, o presidente da BR Distribuidora, Rodolfo Landim, destacou que a falta de ética assola também a iniciativa privada. Ele citou o comportamento do setor de distribuição de combustíveis, que sonegam impostos e adulteram, gasolina e álcool para ganhar competitividade.
- O comportamento ético nem sempre é um padrão, o que gera um enorme impacto negativo no trabalho das empresas éticas, que perdem competitividade - disse.