Correio Braziliense, n. 21817, 10/12/2022. Política, p. 2

Missão de José Múcio é pacificar a caserna


O futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, é considerado, em Brasília, uma “raposa política”. Com larga experiência parlamentar — cumpriu cinco mandatos como deputado federal —, ele também presidiu o Tribunal de Contas da União. Um currículo de peso que será útil à missão principal de curto prazo que lhe foi dada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva: pacificar as Forças Armadas na relação com o governo que assume o país em 1º de janeiro. Discretamente, Monteiro começou a pavimentar o canal de diálogo com os militares antes mesmo de ser anunciado no cargo. O nome dele foi bem recebido pelo alto comando das três instituições.

Despolitizar as Forças Armadas é um desafio, depois de um período de quatro anos em que o poder civil foi ocupado por quadros fardados, seguindo a linha ideológica ultraconservadora e, muitas vezes, antidemocrática, do presidente Jair Bolsonaro. Nesse ponto, o novo ministro da Defesa tem uma posição bem definida, que é a de resgatar o respeito à Constituição, à cadeia de comando e à própria democracia.

A deferência às regras da caserna foi o argumento usado por Monteiro para convencer Lula a indicar os oficiais mais velhos para assumir o comando das três corporações. A expectativa era de que o anúncio dos novos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica fosse feita ontem, como indicou o próprio Lula a interlocutores. Em vez disso, o futuro chefe do Executivo disse que Monteiro ainda vai conversar com os indicados para só então bater o martelo em relação aos nomes. O novo ministro tem encontro marcado para segunda-feira com o atual titular da pasta, general de Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Após a entrevista de Lula no CCBB, Monteiro confirmou que as Forças serão chefiadas pelos altos oficiais com mais tempo de carreira militar, exceto a Marinha, em que o mais velho, o almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, atual chefe do Estado-Maior da Armada, assumirá o posto de comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. A Arma será chefiada pelo segundo na linha de antiguidade, o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, atual comandante de Operações Navais da Marinha.

Os novos comandantes terão de enfrentar os grupos bolsonaristas mais radicais que ainda se rebelam contra o resultado das eleições, em acampamentos na porta de quartéis e em atos antidemocráticos e ilegais, como os bloqueios de caminhoneiros nas estradas do país. Em entrevista à Globonews, Monteiro declarou que manifestações políticas de militares das Forças Armadas “não serão toleradas” e que é preciso “desarmar os espíritos”. (VD)