Correio Braziliense, n. 21818, 11/12/2022. Política, p. 3

Diplomação 20 anos depois da primeira

Mariana Albuquerque


Na tarde desta segunda-feira, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai se reencontrar com o passado, de olhos para o futuro. Vencedor do pleito deste ano com mais de 60 milhões de votos, o petista será diplomado na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em cerimônia marcada para as 14h, e vai revivier o momento de 20 anos atrás.

O certificado, que será entregue a Lula pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, é a formalização da Justiça Eleitoral de que o presidente do Brasil entre 2003 e 2010 estará apto para assumir o terceiro mandato a partir de 1º janeiro de 2023.

Em 14 de dezembro de 2002, Lula e o então vice-presidente eleito José Alencar Gomes da Silva foram diplomados pelo TSE em cerimônia que reuniu mais de 500 convidados na capital federal. Na ocasião, Lula rompeu todas as formalidades e se comoveu. Com a voz embargada e olhos marejados, expressou a emoção de chegar ao mais alto posto do Poder Executivo, após três derrotas nas campanhas presidenciais de 1989, 1994 e 1998. Naquele fim de 2002, o petista comentou a emoção de ser o 37º presidente da República, o primeiro sem formação universitária da história do país

“Se havia alguém no Brasil que duvidava que um torneiro mecânico, saído de uma fábrica, [...] chegasse à Presidência da República, 2002 provou exatamente o contrário. E eu, que, durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho como meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país”, afirmou, entre choros e aplausos.

Durante a cerimônia, Lula ainda disse que, “em razão do protocolo rígido”, tinha trazido um discurso escrito para poder respeitar o tempo previsto para sua fala. Porém, ele abandonou o texto e improvisou. “Cinco minutos eu normalmente uso só para dizer que estou concluindo e falo depois por mais meia hora”, brincou antes de começar a ler. “Parabenizo, e nunca me cansarei de fazê-lo, o povo brasileiro e também as autoridades do TSE pelo zelo na condução das eleições”, agradeceu Lula depois da diplomação.

O ex-ministro Nelson Jobim, então presidente do TSE, comentou o depoimento do petista. “As palavras de Lula demonstraram que temos um presidente sensível e preocupado, e teremos um grande futuro para o país.”

A diplomação emocionada do presidente eleito do Brasil, em 2002, comoveu o país em geral e os políticos. Um deles foi o deputado Valdemar Costa Neto, que já era presidente do PL, atual partido do presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar confessou-se emocionado com o discurso de Lula, dizendo que ele resumiu o sentimento de muitos brasileiros que não têm acesso à educação. O ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, um dos fundadores do PDT, considerou as palavras de Lula uma espécie de resposta e de reprovação às elites brasileiras, na época.

Neste ano, Lula foi eleito novamente, e, desta vez, em uma eleição apertada e polarizada, porém com mais influência. Moraes atendeu ao pedido de Lula e do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), uma semana antes do prazo final, 19 de dezembro.

A diplomação de Bolsonaro, em 2018, também ocorreu antes da data limite definida pelo tribunal, em 10 de dezembro. Na cerimônia em que a Justiça Eleitoral confirma oficialmente o resultado das urnas, após o término do prazo de questionamentos, o atual chefe do Executivo elogiou o trabalho do TSE, órgão que se tornou alvo frequente de seus ataques.

Em conversa com lideranças do MDB, Lula afirmou que pretendia aguardar a diplomação para divulgar os nomes da maioria de seus futuros ministros do novo governo. Na sexta-feira, porém, antecipou o anúncio oficial de cinco ministros: José Múcio Monteiro, na Defesa; Fernando Haddad, na Fazenda; Flávio Dino, na Justiça e Segurança Pública; Rui Costa, na Casa Civil; e Mauro Vieira, nas Relações Exteriores.

*Estagiária sob a supervisão de Rosana Hessel