Valor Econômico, v. 20, n. 4967, 25/03/2020. Empresas, p. B7

Após muitas especulações, Olimpíada é adiada

Leo Lewis
Kana Inagaki
Murad Ahmed 


O Japão e o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiram, ontem, adiar a Olimpíada de Tóquio para o ano que vem, por causa da pandemia de coronavírus. O movimento põe fim a semanas de especulações e faz desta a primeira vez em que os Jogos Olímpicos são cancelados em um período de paz.

Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês, propôs o adiamento durante telefonema com o presidente do COI, Thomas Bach e o presidente da comissão organizadora da Olimpíada de Tóquio, Yoshiro Mori, entre outras pessoas. A expectativa é que a proposta fosse discutida em reunião do comitê executivo do COI ainda ontem.

“Para garantir que os atletas possam competir sob as melhores condições e tornar a competição um evento seguro para o público, propus ao COI que considere o adiamento aproximado de um ano”, disse Abe a jornalistas, após o telefonema. Ele disse que Bach “concordou 100%” com a sugestão.

Diante do ritmo de propagação do coronavírus no mundo, Abe disse que seria difícil realizar os Jogos Olímpicos até o fim do ano. Sua proposta, uma vez aprovada, vai reverberar em Tóquio. Ruas e prédios públicos já estão enfeitados com as imagens da Olimpíada e relógios gigantes em contagem regressiva ajudaram a criar um clima de entusiasmo em torno do evento, que o Japão esperava marcar sua recuperação da devastação causada pelo terremoto e tsunami de 2011.

“Concordamos que a Olimpíada de Tóquio e os Jogos Paralímpicos de Tóquio serão realizados no mais tardar no verão de 2021”, disse Abe. “Vamos cumprir com nossa responsabilidade de nações organizadora com determinação.”

Yuriko Koike, a governadora de Tóquio, que também participou do telefonema com Bach, disse a jornalistas que ela propôs a manutenção do nome “Tóquio 2020”, mesmo com a realização dos jogos em 2021.

A Olimpíada de Tóquio é o evento esportivo mais patrocinado da história - um esforço de captação de recursos liderado pela gigante da propaganda Dentsu, que recorreu ao senso de patriotismo das empresas e conseguiu mais de US$ 1 bilhão apenas com 15 “apoiadores de ouro” japoneses.

Executivos graduados dos maiores patrocinadores, que incluem Nomura, Toyota, Canon e Panasonic, disseram que o adiamento era inevitável e que, convenientemente, acaba com um período de grande incerteza. Mas executivos de duas companhias disseram que o adiamento exigirá um recálculo dos custos de manutenção por outros 12 meses. Outro executivo questionou se um ano seria suficiente para garantir que o mundo esteja livre da ameaça do coronavírus no que diz respeito a viagens globais e grandes eventos.

Na semana passada, no que foi interpretado como um esforço para preparar o Japão para a possibilidade de um adiamento, Abe descreveu a necessidade de realizar uma Olimpíada “completa”. O discurso, segundo autoridades, teve a intenção de mostrar que, ao considerar suas opções e discutir a questão com o COI, o Japão não optaria por nenhuma solução que envolvesse a realização dos jogos com estádios vazios - a condição em que muitos esportes no Japão e em outras partes do mundo estão sendo praticados no momento.

Ao concordarem com o adiamento, o COI e o governo japonês evitam prolongadas batalhas legais sobre os custos da decisão, a que poderiam ficar sujeitos se um dos lados agisse unilateralmente para adiar os jogos.

Embora uma nova data não tenha sido definida, o COI disse que os jogos “deverão ser remarcados para uma data além de 2020, mas não depois do verão de 2021 [terceiro trimestre]”.