O Globo, n. 32538, 07/09/2022. Política, p. 4

Bandeira Bolsonarista

Jussara Soares
Jan Niklas


Tratado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dia chave para mostrar força, capacidade de mobilização e destravar uma recuperação na campanha à reeleição, o Sete de Setembro deste ano eleitoral preocupa os adversários na corrida ao Planalto, que buscaram ontem resistir ao discurso patriótico do presidente. Os atos de hoje também levam apreensão aos outros Poderes, pela chance de ataques às instituições como no ano passado. Nos últimos dias, Bolsonaro intensificou a convocação de apoiadores para irem às ruas hoje, e a possibilidade de que faça discursos radicais contra o Supremo Tribunal Federal (STF) preocupa até mesmo aliados.

Para não deixar o simbolismo e uso político do bicentenário da Independência apenas com o presidente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), tiveram falas públicas ontem sobre o tema e devem dedicar o dia de hoje a agendas que remetam à data. Lula afirmou que Bolsonaro “quer usurpar” o Sete de Setembro do povo brasileiro, e Tebet apareceu em suas inserções e no horário eleitoral da TV enrolada numa bandeira brasileira.

Em Brasília, pela manhã, e no Rio, à tarde, o presidente estará em atos oficiais pelos 200 anos da Independência, com participação das Forças Armadas, e também em manifestações de apoio à sua reeleição, que a campanha intencionalmente tenta fundir. Há apreensão na campanha com o tom dos discursos que ele deve fazer nas duas cidades. Os próprios aliados creem que, numa tentativa de inflamar a base e impulsionar a campanha, Bolsonaro não poupe ataques ao Supremo e a seus ministros.

Desde a posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE, o candidato à reeleição havia interrompido as falas públicas de ataques às urnas e aos tribunais superiores. A trégua acabou depois da operação da Polícia Federal, autorizada por Moraes, contra empresários bolsonaristas — flagrados em troca de mensagens de cunho golpista — e as decisões dificultando o acesso às armas e suspendendo decretos do presidente do sobre o tema, publicadas segunda-feira pelo ministro do STF Edson Fachin, elevaram a tensão. Aliados falam em “provocação” do Judiciário e avaliam que dificilmente Bolsonaro não abordará o assunto nos eventos da Independência.

No ano passado, em ato na Avenida Paulista, o mandatário chamou Moraes de “canalha” e disse que não acataria mais as suas decisões. A campanha — que tem tratado os atos de hoje como um “ponto de virada” da corrida eleitoral para reforçar a narrativa de que a popularidade de Bolosnaro está nas ruas — já argumentou que o discurso de confronto contra o STF e as urnas eletrônicas empolga a militância, mas não ajuda com os eleitores indecisos, os quais o presidente precisa conquistar para e disse que não acataria mais as suas decisões. A campanha — que tem tratado os atos de hoje como um “ponto de virada” da corrida eleitoral para reforçar a narrativa de que a popularidade de Bolosnaro está nas ruas — já argumentou que o discurso de confronto contra o STF e as urnas eletrônicas empolga a militância, mas não ajuda com os eleitores indecisos, os quais o presidente precisa conquistar para se aproximar de Lula na corrida à Presidência.

Na propaganda eleitoral exibida ontem na TV, Bolsonaro conclamou as famílias a irem às ruas hoje e enfatizou que seria uma celebração do “nosso” Brasil:

“Em paz e harmonia vamos saudar a nossa independência. Compareçam, a festa é nossa, do nosso Brasil, da nossa bandeira verde e amarela”. No entanto, em entrevista à Jovem o presidente voltou a criticar ministros do STF, afirmando que eles “trabalham aqui para eleger um bandido”.

Para tentar dissociar Bolsonaro de símbolos nacionais, explorados tanto por ele quanto por sua base em atos e manifestações, Lula dedicou seu tempo da propaganda eleitoral ontem ao tema. O petista enfatizou que o Sete de Setembro “é para ser comemorado com alegria e união por todos os brasileiros”:

“Esse governo abandonou o povo e vem destruindo o país. Eles usam nossa bandeira para mentir, pregar o ódio e incentivar a venda de armas. Eles ameaçam nossa soberania. E soberania é defesa do território e das nossas riquezas. É respeito à democracia”.

Símbolos nacionais 

No vídeo, aparecem imagens da bandeira do Brasil sendo hasteada, além de retratos de diferentes regiões do país onde populares vestem uma réplica da faixa presidencial em verde e amarelo. Mais cedo, durante reunião com representantes dos partidos que o apoiam, Lula já havia criticado o presidente por conta do Dia da Independência.

Diferentemente de Bolsonaro, Lula não terá agenda neste feriado. Amanhã, o petista fará um comício ao lado do seu candidato a vice, o exgovernador paulista Geraldo Alckmin (PSB), no Rio.

Ciro e Tebet decidiram marcar posição. Eles escolheram lugares históricos com referências à Independência: ele estará em Ouro Preto (MG), cidade marco da Inconfidência Mineira; e a emedebista vai a uma fazenda no interior de São Paulo, por onde passou Dom Pedro I. A senadora também mandou um recado aos eleitores na propaganda eleitoral. Segurando uma bandeira do Brasil, disse que o símbolo não tem partido nem dono:

“Ela é de todos nós. O Brasil precisa de uma nova independência”.