Título: Nova abolição custaria R$ 67 bilhões
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 20/11/2005, Brasília, p. D6

Este é o valor estimado pelos movimentos sociais para eliminar as desigualdades que separam negros e brancos

Hoje é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi instituída pela Lei 10.639, de 2003 em homenagem ao líder quilombola Zumbi dos Palmares, assassinado no dia 20 de novembro de 1695. Zumbi foi um dos principais nomes na luta contra a escravidão. Foi também responsável pela criação do Quilombo dos Palmares em Pernambuco, o maior símbolo da resistência anti-escravagista brasileiro. Passados 310 anos de sua morte, a luta de Zumbi continua viva. Embora a escravidão tenha sido abolida no dia 13 de maio de 1888, o fim da desigualdade racial não foi previsto no ato da Princesa Isabel. Embora os afro-descendentes correspondam a cerca de 50% da população brasileira, apenas 1% deles ocupam cargos de chefia e não mais que 2% da população negra concluíram um curso superior. Quarta-feira passada, cerca de sete mil pessoas foram à Esplanada dos Ministérios participar da Marcha Zumbi + 10. Além da programação cultural que durou todo o dia e teve atrações como Olodum e Ilê Aye, os manifestantes foram ao Palácio do Planalto cobrar do governo federal políticas públicas para atender as necessidades básicas da população negra. O manifesto contra o racismo e pelo direito à vida foi entregue ao ministro Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência da República, para ser encaminhado ao presidente Lula da Silva. Entre os tópicos do documento estava o assassínio em massa da juventude negra, o trabalho precário e o desemprego, a exclusão educacional, a intolerância religiosa e a violação de direitos culturais. Para promover a equiparação dos índices de desenvolvimento humano entre a população afro-descendente e a população branca brasileiras, os manifestantes calculam serem necessários R$ 67,2 bilhões. Esse valor foi chamado de Custo do Racismo no Brasil. Para ser eficaz, o montante deveria ser investido a curto prazo em educação, habitação e saneamento básico. - O objetivo da marcha é exigir do Estado brasileiro reparações para a população negra. Somos 50% da população brasileira, mas sofremos com a desigualdade das políticas públicas - afirma Fátima Oliveira, secretária-executiva da Rede Feminista de Saúde, integrante da coordenação da marcha. Segundo Fátima, o combate ao racismo interessa a um novo projeto de nação. Ela reclama que o presidente tem propostas, mas não tem propósitos com relação às políticas públicas para a promoção da igualdade racial. - Na medida em que não há recursos para cumprir as políticas, as propostas se perdem - destaca ela. O professor de finanças Hélio Santos veio de São Paulo para participar da marcha. Para ele, o movimento sinaliza a busca por um novo modelo de desenvolvimento. Um modelo verdadeiramente democrático. - O Brasil é um país inconcluso. Todos as nações que deram certo procuraram incluir suas populações - afirma o professor. Ele ressalta que o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, que durou 388 anos. Como consequência, os negros ficaram excluídos economicamente. Culturalmente, os movimentos afro-descendentes não se fecharam para o restante da população, ao contrário do que acontece com outras comunidades como os judeus, muçulmanos e sírios-libaneses. - O branco aqui é negro culturalmente. A dança é influência dos afro-descendentes. Nunca ouvi falar de um branco que tenha sido discriminado em uma escola de samba, onde predominam os negros, mas o contrário acontece - afirma.