Valor Econômico, v. 20, n. 4968, 26/03/2020. Brasil, p. A3

Para área econômica, isolar todos é temerário 

Claudia Safatle
Fabio Graner


A equipe econômica do governo considera temerária a prorrogação do isolamento social generalizado para todas as idades. A visão é que a economia não resistirá a mais do que 15 dias de paralisação, mesmo com as medidas anunciadas, mas que ainda estão sendo preparadas para enfrentamento dos efeitos da crise do coronavírus.

O dia 7 de abril é a data que os governadores marcaram para o fim do confinamento. É quando se completam os 15 dias de isolamento social decretado pelos governos estaduais. O pressuposto é o de que a não prorrogação será uma decisão de consenso entre os governadores. Desde a noite de terça, contudo, as relações entre o governo federal e os governos dos Estados azedaram, depois do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, criticando a ação dos governadores.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ao Valor que é preciso encontrar “um ponto de equilíbrio entre a visão médica e a visão econômica”, sob pena de preservar a saúde da população e, em uma avaliação extrema, levar as pessoas a morrerem de fome. A priori, defende-se um isolamento vertical, que vigoraria para os idosos acima de 60 anos. Os jovens, mais resistentes ao coronavírus, voltariam para o trabalho.

Um de seus assessores especiais do Ministério da Economia, o ex-parlamentar Guilherme Afif Domingos, disse ao Valor que há a possibilidade de usar a rede de hotéis, hoje vazia, nas cidades para acomodar os idosos e seus acompanhantes, com as diárias pagas pelo governo federal.

Afif ressalva que esta é uma sugestão que ele faz como cidadão, pois ainda não é uma ideia levada à discussão no governo. E uma medida dessa natureza exigiria um ato oficial do presidente da República, Jair Bolsonaro.

As crianças retornariam para as escolas e estas dobrariam o tempo de permanência, que passaria a ser integral, e forneceriam refeições aos alunos.

Afif disse que um dos temores é o de que não sendo dada uma solução para que a economia saia da paralisação e volte a funcionar, comecem os saques aos supermercados. Hoje, por exemplo, houve saque a um supermercado na cidade de São Vicente (SP). Por enquanto, parece que foi ação de bandidos, mas as coisas podem fugir do controle e as ruas serem tomadas por rebeliões da população.

É importante que se diga que essa não é a opinião da área de saúde do governo Bolsonaro. O ministro Luiz Henrique Mandetta, já disse ao presidente que é contra o isolamento vertical.

A questão divide o governo e pode acirrar os conflitos entre a área econômica e Bolsonaro e a área da saúde comandada pelo médico, Mandetta, cujo desempenho na crise do coronavírus tem sido elogiado por todos.

No Ministério da Economia, a orientação que ainda prevalece é de seguir os protocolos da Saúde, o que implica em lidar com a quarentena. Mas é crescente a inquietação com os futuros efeitos da paralisação, que ganhou contornos mais dramáticos em Estados de elevado PIB, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.