O Globo, n. 32541, 10/09/2022. Política, p. 6

Um em cada cinco admite violência se rival vencer

Pablo Ortellado


Um levantamento feito pela Quaest a pedido do Monitor do Debate Político, grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), apontou um índice preocupante de eleitores que consideram em alguma medida a violência justificada se o candidato adversário vencer. Esse dado está muito próximo ao identificado por cientistas sociais nos Estados Unidos que acenderam o alerta em 2020, um ano antes da invasão do Congresso americano.

A Quaest perguntou em todo o Brasil a eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e demais candidatos da terceira via o quanto consideram justificado o uso de violência se Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição, vencer. A Quaest também indagou a eleitores do presidente Bolsonaro e dos demais candidatos ao Palácio do Planalto da terceira via o quanto consideram justificado o uso de violência se Lula vencer. Os entrevistados podiam responder que consideram “muito justificado”, “um pouco justificado” e “nada justificado”.

Os números variam um pouco entre os eleitores de um ou outro candidato. Mas, em geral, um em cada cinco eleitores considera o uso da violência justificado em alguma medida se o adversário vencer — cerca de metade considera “muito justificado” e a outra metade “um pouco justificado”. Os números não variam muito entre eleitores de esquerda e de direita. O levantamento foi feito com o resultado de 1.500 entrevistas presenciais domiciliares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.

Os resultados mostram o alto grau de polarização política que pode estar extrapolando e se convertendo em intolerância política. Não há uma série histórica no Brasil para analisar o crescimento deste índice nos últimos anos.

Intolerância nos EUA

No entanto, nos Estados Unidos, o índice elevado registrado na campanha eleitoral de 2020 foi o cume de um processo de acirramento que aconteceu no decorrer de anos anteriores. Pesquisas recentes têm mostrado nos Estados Unidos uma expectativa elevada entre a população de que aquele país caminha para uma guerra civil. Não podemos deixar que o mesmo aconteça aqui. A pesquisa mostra ainda a importância de que lideranças políticas adotem discursos e apontem caminhos para despressurizar o ambiente político e a tensão entre eleitores adversários.

 Os números mostram que a polarização pode se converter em intolerância política.