Valor Econômico, v. 20, n. 4968, 26/03/2020. Política, p. A15

Rejeição a discurso fica evidente nas redes e preocupação com doença é grande

Carolina Freitas
César Felício


O pronunciamento de anteontem à noite do presidente Jair Bolsonaro repercutiu mal não só entre governadores e prefeitos - mas também nas redes sociais. Levantamento da plataforma de monitoramento digital Torabit mostra que 81% do que se comentou sobre Bolsonaro desde o discurso foram críticas. Comentários positivos representam 14,2% e neutros, 4,7% das 400 mil menções analisadas.

A fala do presidente contrariou recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Bolsonaro chamou a covid-19, doença causada pelo coronavírus, de “gripezinha” e atacou os governadores que decidiram fechar escolas para conter a expansão da doença no Brasil. A pandemia de coronavírus matou, até o momento, mais de 20 mil pessoas no mundo, sendo 57 no Brasil.

O Torabit monitorou menções públicas feitas ao nome do presidente no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube. Foram 400 mil citações entre as 20h30 de terça e as 12h de ontem.

Hashtags desfavoráveis a Bolsonaro dominaram as redes sociais, mostra o levantamento. A mais prevalente foi #ForaBolsonaro. Com muito menos frequência, em seguida, aparece #BolsonaroTemRazao, usada por apoiadores do presidente.

A repercussão da fala do presidente liderou, no período analisado, os “trending topics” (TTs) do Twitter, que é o ranking dos assuntos mais falados nessa rede social. A hashtag #BolsonaroGenocida entrou 106 vezes nos TTs. As cidades que mais impulsionaram esta expressão foram São Paulo (SP), Salvador (BA) e Belo Horizonte (MG).

Já a hashtag #ForaBolsonaro entrou 95 vezes nos assuntos mais falados no Twitter. As cidades que puxaram o movimento foram Recife (PE), Fortaleza (CE) e São Paulo (SP). A hashtag #BolsonaroTemRazao entrou 84 vezes nos TTs, puxada por São Luís (MA), Salvador (BA) e Curitiba (PR).

O pronunciamento deu-se em um momento em que o temor com a doença em si excede o medo das consequências econômicas que a pandemia pode provocar. Em levantamento pela internet com 2 mil respostas da consultoria Atlas Político, feito entre 23 e 25 de março, 72% dos que responderam disseram que a maior preocupação era com a quantidade de pessoas que poderão morrer. Somente 21% disseram que estavam mais preocupados com o impacto da crise na economia.

Isso mesmo com 48% do universo pesquisado afirmando que a renda diminuiu depois do início do problema. O levantamento registra 9% dos pesquisados que disseram ter perdido o emprego. Entre os que responderam, 61% creem que haverá recessão econômica e 54% pensam que o fim da crise demorará mais do que três meses.

A consultoria constatou que 82% dos que responderam o levantamento concordam com medias de contenção ao coronavírus impostas pelas autoridades, como suspensão de aulas, fechamento de lojas e limitação de circulação de pessoas. Nada menos que 84% dos pesquisados disseram que temem perder algum amigo ou membro da família em razão da pandemia. Os que temem pela própria vida são 39% e os que receiam ficar doente são 36%. Apenas 25% nada temem.