Valor Econômico, v. 20, n. 4968, 26/03/2020. Política, p. A13

Câmara e Dino questionam capacidade do presidente

Marina Falcão



Os governadores do Nordeste decidiram manter as medidas de restrição de circulação nos seus Estados, contrariando orientação do presidente Jair Bolsonaro de relaxar o confinamento da população. As críticas mais duras ao discurso do presidente partiram dos governadores de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que questionaram a capacidade de Bolsonaro conduzir o país diante da pandemia.

Câmara afirmou que o discurso de Bolsonaro “lamentavelmente comprova que o Brasil está sem comando num dos momentos mais desafiadores de sua história”, em texto publicado no Facebook. Já Dino disse que o pronunciamento mostrou que “há poucas esperanças de que Bolsonaro possa exercer com responsabilidade e eficiência a Presidência da República”, disse. “Os danos são imprevisíveis e gravíssimos”.

Após uma conferência virtual ontem, os governadores do Nordeste divulgaram uma carta em que se dizem “frustrados com o posicionamento agressivo da Presidência da República, que deveria exercer o seu papel de liderança e coalizão em nome do Brasil”. No documento, eles reiteraram que vão continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência seguindo orientação de profissionais de saúde.

Os governadores disseram ainda que é o momento de se esquecer diferenças políticas e partidárias. “Acirramentos só farão prejudicar a gestão da crise”.

O grupo cobrou ações urgentes do governo federal para atender os trabalhadores informais e autônomos. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o governador do Maranhão defendeu que o governo crie um programa de renda mínima.

Camilo Santana (PT), governador do Ceará, disse que vai continuar trabalhando fortemente as ações que visam evitar o avanço do coronavírus no Estado. “Todas as medidas adotadas por nós são recomendadas pelos profissionais de saúde, pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS), e têm sido a melhor forma de enfrentamento ao coronavírus no mundo”, afirmou, pelo Facebook.

Wellington Dias (PT), governador do Piauí, também mencionou a confiança na ciência. “Nós vamos seguir como a ciência nos comprova. O Piauí mantém todas as medidas de prevenção à covid-19”, disse, em vídeo.

Na Bahia, o governador Rui Costa (PT) reafirmou o compromisso “de não baixar a guarda” e “cuidar da vida das pessoas”. Ao mesmo tempo, o petista, que comanda o Consórcio Nordeste, mencionou a necessidade de esquecer diferenças partidárias e defendeu uma cooperação nacional urgente para proteger os empregos e a sobrevivência dos mais pobres.

Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte, disse que a prioridade é defender a vida das pessoas, não esquecendo da economia, em sua página no Twitter. Renan Filho (MDB), de Alagoas, disse que está trabalhando para “achatar a curva de contágio” do coronavírus.

Em carta divulgada ontem, os secretários de saúde do Brasil afirmaram que assistiram “estarrecidos” o pronunciamento presidencial e que sua fala dificulta o trabalho do ministro da Saúde, Henrique Mandetta, e dos técnicos.

“Já temos dificuldades demais para enfrentar. Não podemos permitir o dissenso e a dubiedade de condução do enfrentamento à covid-19. Assim, é preciso que seja reparado o que nos parece ser um grave erro do presidente da República”, afirmaram.