Valor Econômico, v. 20, n. 4968, 26/03/2020. Internacional, p. A16

Comércio global deve cair mais que em 2008-09

Assis Moreira 


O coronavírus poderá causar um golpe maior nos fluxos de exportações e importações do que a crise financeira global de 2008-09, aponta o Monitor do Comércio Mundial, da consultoria Capital Economics, de Londres.

Em janeiro, o comércio global teve uma queda de 1,2% em volume, em relação ao mês anterior. À época, o impacto da pandemia parecia concentrado na China, que teve baixa de 11% nas exportações, segundo levantamento do CBP, Centro de Pesquisas Econômicas, da Holanda.

Agora, a Capital Economics diz que as novas encomendas de exportações afundaram em fevereiro para seu nível mais baixo desde o início de 2009, o que é consistente com a contração do volume do comércio global em janeiro.

Também em março os índices de novas encomendas continuaram a cair a níveis recordes no Japão e na zona do euro, enquanto nos EUA e no Reno Unido recuaram fortemente. No geral, os dados apontam para uma contração bem mais profunda nas exportações em termos de volume.

Capital Economics conclui que o comércio internacional em volume pode cair até 25% fluxos comerciais.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) está preparando suas projeções, que serão divulgadas no começo de abril. Mas seu diretor-geral, Roberto Azevêdo, previu ontem uma “queda muito forte” das trocas globais. Ele citou projeções recentes de outras entidades, que preveem desaceleração econômica e perda de empregos piores que durante a crise financeira global de 2008-09.

Na véspera da teleconferência de emergência dos líderes do G-20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, Azevêdo pediu para os países manterem os mercados abertos. “Nenhum país é autossuficiente por mais poderoso ou avançado que seja”, afirmou. “Manter o comércio e o investimento fluindo é essencial para manter as prateleiras cheias e os preços acessíveis.”

Para a OMC, quando a coronacrise começar a diminuir, o comércio permitirá que os países se ajudem a crescer, “trazendo uma recuperação econômica mais rápida e mais forte para todos nós”.

Os líderes do G-20 farão a reunião virtual hoje, entre 9h e 11h30 (horário de Brasília). A expectativa é que o grupo confirme ações conjuntas, incluindo medidas para garantir liquidez nos mercados globais.