Correio Braziliense, n. 21801, 24/11/2022. Política, p. 4 

Sigla pede anulação dos votos de 279 mil urnas

Henrique Lessa 


Horas antes da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que o partido iria manter o pedido de anulação apenas das urnas de fabricação anterior ao ano de 2020, o que equivale a 60% dos equipamentos usados na última eleição. Costa Neto apontou que o interesse do partido não é a anulação das eleições, mas “apenas” dos votos nas 279 mil urnas anteriores ao modelo mais antigo, e apenas no segundo turno. Ainda segundo o presidente do PL, a auditoria contratada pelo partido apurou essas supostas falhas somente durante o trabalho realizado na última etapa do pleito. 

Na coletiva com a imprensa realizada ontem à tarde, no Centro Cultural Brasil 21, Costa Neto admitiu explicitamente que o único objetivo do PL é forçar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) com a anulação das urnas “velhas”. Disse que, “em todas as urnas novas, há uma vitória por mais de um milhão de votos ao presidente Bolsonaro”. “Pedimos ao TSE que decida a situação. Não se trata de fazer uma nova eleição”, afirmou. “O voto é seguro, por isso temos que fazer esse levantamento. Se isso for uma mancha, temos que resolver agora”, completou, alegando que o partido está “discutindo a história do Brasil”.  

Se apegando a questão de uma suposta inexistência de um número de série para cada um dos equipamentos de votação antigos, o presidente da legenda não apresentou nenhuma prova ou indício de fraude na eleição. Apesar disso, refutou qualquer possibilidade de pedir a anulação das votações do primeiro turno, que fizeram do PL a maior bancada no Congresso Nacional, chegando a 99 deputados na Câmara. Para Costa Neto, “como essa questão pode ser inicialmente resolvida do ponto de vista do segundo turno das eleições”, um novo processo eleitoral envolveria “milhões” de pessoas, o que, segundo ele, não seria viável.  

Questionado pelo Correio quanto às auditorias internacionais e das Forças Armadas, afirmou que a fiscalização de organizações estrangeiras não teria sido detalhada “a fundo”, como foi feito, segundo o bolsonarista, no estudo contratado pelo PL. Ele evitou comentar a auditoria realizada pelos militares, que tampouco indicou fraude. 

Ainda na coletiva, o presidente do PL garantiu que o bolsonarismo não vai acabar. “Não vai parar, independentemente de qualquer coisa. Esse segmento que surgiu com o Jair Bolsonaro não vai parar.” Em relação às declarações da ex-mulher, Maria Christina Mendes Caldeira, que gravou um vídeo ameaçando revelar podres, caso Costa Neto continuasse a questionar o resultado das urnas, disse apenas que “isso são mágoas”. 

Segundo fontes do PL, o presidente da sigla conversou com Bolsonaro na noite de terça-feira e ontem durante o dia. A fala do político questionando os resultados foi, portanto, conforme interlocutores, afinada com o presidente da República. A manutenção do pedido questionando os resultados é apontada como fruto de pressão do próprio Bolsonaro, que rompeu uma reclusão de 20 dias no Alvorada, residência oficial da Presidência, ao se dirigir ontem ao Palácio do Planalto.  

  

Manifestações 

Questionado sobre os atos golpistas que ocupam rodovias em todo o Brasil desde o último dia 30, o presidente do PL disse que “ninguém pode impedir o direito de ir e vir”. Sobre os que protestam em frente a quartéis contra o resultado do pleito, ele disse que, “desde que não criem problemas de trânsito, saída e entrada” das unidades, “têm todo o direito de se manifestar”.  

Costa Neto também associou as manifestações a abusos de oportunistas, em especial no Mato Grosso, onde, segundo ele, grupos criminosos querem atacar o agronegócio e fazendeiros da região. “Existe um abuso muito grande no Mato Grosso, principalmente de alguns segmentos, de estarem explorando esse evento para fazer movimento contra os fazendeiros”. E completou: “É gente que mexe com carga roubada. Isso tem que ser encerrado, nós temos que lutar e usar a força contra isso.