O Globo, n. 32541, 10/09/2022. Brasil, p. 14

Fumaça de queimadas na Amazônia chega ao Sul e a SP

Lucas Altino
Rafael Garcia
Eduardo Gonçalves


A fumaça gerada pelas queimadas na Amazônia já chegou até o Rio Grande do Sul, além de São Paulo, Paraná, Paraguai, Bolívia e Argentina. De acordo com o Metsul e o Climatempo, fortes ventos, a 1,5 quilômetro de altitude, do Norte para o Sul do país, causaram o deslocamento. Além de haver aumento de temperatura onde a fuligem chega, o céu pode ficar mais alaranjado ou acinzentado.

Na manhã de ontem, o céu acinzentado foi observado em São Paulo. Mas a fuligem perto de casa relatada por moradores da capital paulista não seria relacionada à fumaça do Norte, que fica a uma altitude maior, segundo o Metsul.

O sol também ganha uma cor mais alaranjada ou avermelhada. O Climaempo informou que as queimadas liberam materiais que dispersam parte das cores do sol, especialmente no início ou fim do dia. A Amazônia teve em agosto o terceiro pior mês de desmatamento em pelo menos dez anos, segundo os alertas do sistema Deter, do Inpe. Com 1.661,5 km² desmatados no período, foi a quarta vez no último decênio que a floresta perdeu uma área maior que o município de São Paulo (1.521 km²).

Os dados confirmam a expectativa de cientistas, baseada no número de focos de fogo observados, que também bateram recorde no mês passado. Desde que o desmatamento atingiu sua menor marca já medida, em 2012, poucas vezes a floresta teve tanto fogo e desmate. O Deter não registra dados anuais acima de 7 mil km² por ano de desmatamento, escala em que está atualmente, desde 2008.

As grandes áreas de desmate no inverno amazônico estão sobretudo na região de Lábrea (AM), no Norte de Rondônia, no Alto Rio Madeira, e no Leste do Acre. No Pará, áreas perto de Santarém também sofrem. O Ministério do Meio Ambiente não emitiu um comentário público sobre o mês de agosto. Mas na segunda-feira, divulgou uma comparação com outros meses. “Em toda a Amazônia Legal, a redução no desmatamento foi de 2,16%, entre agosto de 2021 e julho de 2022, de acordo com dados do Sistema de Detecção de Desmatamentos e Tempo Real (Deter)”, informou.

Orçamento não gasto

O ministério também afirma que reforçou os órgãos de fiscalização. Mas o Ibama, a principal autarquia federal destinada a esta função, executou apenas 37,9% do orçamento reservado para ações de monitoramento, prevenção e controle de incêndios florestais até o dia 6 de setembro. O instituto desembolsou R$ 20 milhões de um montante de R$ 52,75 milhões.

Os dados são do Painel do Orçamento Federal do Ministério da Economia, divulgados pelo Observatório do Clima. Em 2021 e 2020, a execução do orçamento previsto para a prevenção de incêndios florestais ficou entre 70% e 75%. O Ibama afirma que empenhou 83% do orçamento total para a prevenção e combate a incêndios florestais. O empenho, ressaltou, é um “compromisso de pagamento utilizado na administração pública, e a liquidação somente ocorre conforme os contratos e serviços são executados e finalizados”.