Valor Econômico, v. 20, n. 4968, 26/03/2020. Finanças, p.C3

Tesouro avalia mudar plano de financiamento da dívida pública de 2020

Mariana Ribeiro 



Frente ao avanço dos impactos econômicos do coronavírus e a tensão política em torno do petróleo, houve uma piora significativa na percepção de risco global em março, avalia o Tesouro Nacional. Com a mudança no cenário, a secretaria já enxerga a necessidade de alterar o Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2020.

Em documento que acompanhou a divulgação da dívida pública de fevereiro, o Tesouro diz que, no mercado local, as expectativas de novos cortes na Selic provocaram uma queda nas taxas de juros de curto prazo, enquanto a “volatilidade extrema no mercado internacional e o comportamento da taxa de câmbio levaram as taxas de juros de longo prazo aos maiores níveis desde dezembro de 2018”.

Nesse cenário, a secretaria recomprou liquidamente R$ 33,1 bilhões em títulos públicos até 25 de março, a maior atuação da história no mercado. “O programa de recompra de 2018 atingiu R$ 22 bilhões. Então, este é histórico”, disse o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, por meio da assessoria de imprensa do Ministério da Economia.

A secretaria enfatiza que durante períodos de “elevada volatilidade” pode realizar leilões extraordinários para “fornecer suporte ao bom funcionamento” do mercado e que continuará atuando “sempre que observar disfuncionalidades nos negócios". Segundo Vital não há teto para a atuação do Tesouro.

O secretário admitiu que as condições do mercado indicam a necessidade de revisão do PAF, que traz os parâmetros para o endividamento no ano. Mas o momento exato da alteração “depende de algumas informações que estão sendo coletadas junto ao mercado e da elaboração dos cálculos necessários”. O subsecretário da Dívida Pública, José Franco, acrescentou que é possível que haja alteração em “praticamente todos os indicadores”.

Segundo ele, no entanto, “não necessariamente” haverá aumento na emissão de títulos atrelados à Selic, mas sim a “introdução de vencimentos mais curtos, como está no comunicado dos leilões". “Essa alteração na estratégia foi feita com o objetivo de ajustar as colocações do Tesouro às atuais condições do mercado”, afirmou. Franco disse ainda que o momento adverso deixou em estado de espera o lançamento de um título prefixado de 20 anos. “Essa alteração na estratégia foi feita com o objetivo de ajustar as colocações do Tesouro às atuais condições do mercado”, afirmou. Franco disse ainda que o momento adverso deixou em estado de espera o lançamento de um título prefixado de 20 anos.

Em fevereiro, a dívida pública federal subiu 1,22% em relação ao mês anterior e somou R$ 4,281 trilhões. A participação de investidores estrangeiros subiu para 10,93%. Os fundos de investimento seguem como os principais detentores da dívida, com 26,94% do total. São seguidos pelos fundos de previdência, com 24,62%.