Valor Econômico, v. 20, n. 4969, 27/03/2020. Brasil, p. A4

Ministério da Saúde critica decisão de SP para quarentena

Rafael Bitencourt 


O embate entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores sobre o rigor das medidas de isolamento respingou ontem na relação da equipe do Ministério da Saúde com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.

Após o balanço de casos de infecção pelo novo coronavírus, o secretário-executivo do ministério, João Gabbardo dos Reis, manifestou descontentamento com o anúncio do governo estadual de endurecer a quarentena um dia após o ministro Luiz Henrique Mandetta criticar a medida.

“Até então, as secretarias estaduais de Saúde vinham conversando com o ministério, combinando os próximos passos e as decisões que são tomadas. Se o Estado de São Paulo resolver, a partir de agora, tomar as decisões independente do Ministério da Saúde, nós vamos recomendar que, nas entrevistas coletivas em São Paulo, não digam que estão tomando medidas em acordo com o ministério, porque elas não estão”, afirmou Gabbardo.

Até o episódio, os técnicos do órgão federal vinham elogiando a sintonia entre as equipes.

Ontem, o número de mortes pela covid-19 subiu de 57 para 77. Do total de óbitos, 58 foram em São Paulo, nove no Rio e três ocorrências em Pernambuco e no Ceará. Outros quatro Estados registraram um caso (Rio Grande do Sul, Amazonas, Goiás e Santa Catarina).

Os casos confirmados de infecção pelo vírus continuam aumentando. Em todo o país, o número de doentes cresceu de 2.433 para 2.915, em 24 horas. São Paulo, com 1.052 casos, segue com o maior número de registros. Em seguida, surgem Rio de Janeiro (421 pacientes), Ceará (235) e Distrito Federal (200).

Ao completar um mês do primeiro caso confirmado da doença no Brasil, os técnicos do Ministério da Saúde não se arriscaram a fazer projeção sobre o avanço da pandemia para as semanas seguintes.

Gabbardo, no entanto, reconheceu que haverá aumento expressivo da contaminação no Brasil. “A previsão é de que teremos 30 dias muito difíceis. Provavelmente, estaremos aí na fase crítica da pandemia”, disse.

Ontem, o ministério anunciou um novo canal de comunicação com a população, via WhatsApp, pelo número (61) 9938-0031. Um robô virtual vai repassar as principais orientações sobre a doença e evolução da pandemia.