Valor Econômico, v. 20, n. 4969, 27/03/2020. Brasil, p. A6

Estimativas para desemprego vão de 11,5% a 25,5%

Bruno Villas Bôas


Os impactos das medidas restritivas adotadas para enfrentar o novo coronavírus vão gerar desemprego e perda de renda no país, com trabalhadores informais sendo os mais afetados. Este quadro é ponto pacífico entre economistas ouvidos pelo Valor, que divergem, no entanto, quanto à intensidade da piora do mercado de trabalho.

As incertezas sobre o desenvolvimento do contágio são tão elevadas que as estimativas para o pico do total de desempregados no país variam de 13 milhões a 40 milhões de pessoas, com projeções para taxa de desemprego desde 11,5% a até 25,5% da força de trabalho. Tudo vai depender da intensidade da recessão que se avizinha.

Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, acompanha de perto os indicadores de mercado de trabalho. Pelo cenário básico da consultoria, de queda de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, o número de desempregados no país vai crescer de 11,6 milhões registrados no fim do ano passado para 13 milhões em outubro 2020, conforme dado dessazonalizado.

“A perda de emprego vai ocorrer entre formais e informais, principalmente nas pequenas empresas, que têm mais dificuldade de segurar o pessoal”, disse Donato. “Entre informais, parte dos trabalhadores pode continuar ocupada, como motoristas de Uber, já que não existe patrão para demiti-los, mas a renda cairá sensivelmente.”

Num cenário mais dramático traçado pela LCA, de queda de 5% do PIB em 2020, os impactos sobre o mercado de trabalho serão mais preocupantes. O total de desempregados chegaria 27,7 milhões de pessoas em julho do próximo ano, dado dessazonalizado. A taxa de desemprego mais que dobraria: passaria dos atuais 11% para 25,5%.

Professor do Insper, Naércio Menezes Filho acredita em um cenário semelhante. Ele lembra que o crescimento dos empregos informais nos últimos trimestres foi responsável pela redução da taxa de desemprego a partir de 2017. Com a restrição de circulação de pessoas, essas ocupações - como ambulantes e pequenos prestadores de serviços - seriam rapidamente afetadas.

“O desemprego pode chegar assim a 25% da força de trabalho. Mas será um movimento rápido, de dois trimestres. À medida que a circulação de pessoas for retomada, esses informais voltam”, disse o economista.

A equipe de pesquisa econômica do ASA Bank, liderada pelo economista Carlos Kawall, concorda que a retração da atividade econômica vai reverter a trajetória de leve queda da taxa de desemprego iniciada em meados de 2017. Para eles, as medidas de distanciamento devem durar por todo o segundo trimestre.

“ O efeito no desemprego só não deverá ser tão acentuado quanto o visto na crise de 2014-16 pois a atual retração tende a ser aguda, mas concentrada no tempo, claramente um choque passageiro”, avaliaram. “Não obstante, esperamos que a taxa de desemprego se eleve para 12,8% até o fim de 2021.”

Bruno Ottoni, economista da consultoria IDados, calcula que a taxa de desemprego pode atingir 12,8% no terceiro trimestre de 2020 caso do PIB recue 1% no período. A mediana das projeções de analistas para o PIB de 2020 está em 0,9%, segundo levantamento recente do Valor Data. Se a queda do PIB for de 5%, a taxa de desemprego subiria para 14,6% no terceiro trimestre.

Ottoni explica que as estatísticas de desemprego do país podem não mostrar um piora ainda maior por causa do chamado “desalento” - quando pessoas desistem de procurar emprego por acreditar que simplesmente não vão encontrar uma vaga. Com o isolamento social e fechamento de comércio e serviços, as pessoas tendem a simplesmente não procurar emprego.

Pela metodologia do IBGE, que segue orientações internacionais, é preciso que a pessoa tenha efetivamente procurado um posto de trabalho para ser considerado desempregada. “Quando passar o período de isolamento, esses trabalhadores provavelmente vão voltar a procurar emprego e exercer pressão no mercado de trabalho”, diz Ottoni.

A estimativa aparentemente mais extrema até aqui foi o traçado por Guilherme Benchimol, fundador e sócio da XP Investimentos. Economista de formação, Benchimol alertou, durante uma “live” promovida pela corretora com participação de empresários, que o total de desempregados poderia chegar a 40 milhões, número que chamou de “assustador”.

Procurado para detalhar a projeção, Benchimol explicou que fez um paralelo com uma projeção apresentada dias atrás pelo presidente da divisão regional do Federal Reserve (BC dos EUA) de St. Louis, James Bullard. “Ele disse que no segundo trimestre o desemprego americano chegaria a 30%. A nossa taxa de desemprego no Brasil está na casa dos 10%.”

O governo federal anunciou medidas para amortecer a crise, como o voucher de R$ 200 para trabalhadores informais e repasse R$ 3 bilhões para o Bolsa Família, além de medidas visando o empregador, como adiamento do recolhimento de FGTS e antecipação de férias. A medida que incluía a suspensão de contratos de trabalho sem pagamento de salário acabou revogada, após críticas generalizadas.

Donato diz que as medidas que dividem o custo da crise entre patrão e empregados seria o melhor caminho para enfrentar a crise, como a redução de jornada de trabalho com redução proporcional de salários. “Isso pode evitar piora maior de confiança de empresários e de consumidor”, explicou o economista, que criticou a suspensão dos contratos de trabalho.