Título: Prefeitos boicotam Lula
Autor: Juliana Rocha e Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 28/11/2005, País, p. A3
A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista a radialistas quinta-feira de que a relação com o Rio é muito difícil soou como uma declaração de guerra para o casal Garotinho. O fim do aparente armistício entre Lula e a governadora Rosinha Matheus ficou patente nas confirmações de presença para audiência dos 13 prefeitos da Baixada Fluminense com o presidente, hoje, em Brasília, articulada pelo presidente da Associação de Prefeitos da região, o petista Lindberg Farias, de Nova Iguaçu.
Ontem, Lindberg divulgou nota em que afirma que o governo do estado trabalhou para esvaziar a reunião, marcada para reforçar o movimento de atrair a refinaria da Petrobras para Itaguaí. Rosinha, entretanto, defende a instalação no Norte Fluminense. Lindberg diz que o prefeito de Seropédica, Gedeon Antunes (PSC), aliado de Garotinho, chegou a confirmar a presença, mas cancelou ''dizendo que emissários da governadora Rosinha Matheus o procuraram pedindo para não reforçar o movimento''.
Por influência do governo do estado, dos 13 prefeitos, pelo menos sete decidiram não comparecer à reunião com Lula, em prol da instalação da refinaria de petróleo da Petrobras em Itaguaí. O governo do estado quer que a refinaria seja instalada em Campos, reduto eleitoral do casal Garotinho e mote de campanha de Rosinha desde que ela assumiu o governo em 2003. O anúncio será em dezembro.
O número de prefeitos presentes será termômetro da força política de Lula e de Garotinho na região, que tem 2 milhões de eleitores.
Quinta-feira, houve troca de farpas entre Lula e Rosinha. O presidente falou mal do governo, pelo menos cinco vezes, em entrevista à radialistas.
- Eu não me acerto com a Rosinha, Garotinho e Cesar Maia. A relação é muito difícil. Estou realmente preocupado. No Rio tudo é difícil - disse Lula.
A governadora revidou:
- Desde o primeiro dia de governo, Lula não fez outra coisa se não perseguir e maltratar o estado do Rio.
O encontro será hoje, em Brasília, às 15h30, e o presidente receberá, das mãos de Lindberg, documento com o pedido de instalação da unidade de refino em Itaguaí. Segundo o secretário estadual de Enercia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, outra carta foi elaborada pelo grupo de prefeitos que não comparecerá ao encontro, desta vez refutando a instalação da refinaria no município da Região Metropolitana.
Para Victer, o argumento para instalar a refinaria em Campos é técnico. Ele afirma que a Baixada está recebendo investimentos de duas siderúrgicas, do pólo gás-químico e de uma petroquímica, além de duas termoelétricas e que haveria uma saturação ambiental e logística se a obra fosse para Itaguaí.
Lindberg, por sua vez, espera estar acompanhado de outros seis prefeitos: de Queimados, Paracambi, Mesquita, Japerí, Nilópolis, além do município de Itaguaí.
O governo do estado conta apenas cinco presentes. Interlocutores de Garotinho afirmam que os prefeitos de Japeri, Pastor Bruno, e Nilópolis, Farid Abrão David, decidiram não comparecer. Procurados ontem pelo JB, nenhum dos dois foi encontrado. Já os prefeitos de Duque de Caxias, São João de Meriti, Magé, Guapimirim, Seropédica e Belford Roxo já tinham se posicionado contra o encontro em Brasília.
O petista Artur Messias, de Mesquita, lamenta a interferência do governo do estado.
- É lamentável que haja colegas que defendem mais os interesses da governadora do que os interesses da população da sua região - disse.
Washington Reis (PMDB), de Duque de Caxias, uma das cidades mais importantes da região, diz que faltará à audiência porque não foi convidado.
- Sou um parceiro natural do governo do estado, mas precisamos também do apoio do governo federal. Não fui convidado, até porque não falo com Lindberg há quatro meses - diz, acrescentando que se fosse ao encontro, cobraria a construção do Arco Rodoviário, antiga promessa do governo federal.
O discurso dos prefeitos que decidiram faltar o encontro em Brasília não está, porém, unificado. Nelson do Posto (PMDB), de Guapimirim, admite o convite, mas acha que é perda de tempo reunir-se com o presidente da República.
- O governo federal promete e até hoje nada. Não vou perder tempo indo a Brasília. Aliás, o governo estadual também não ajuda.