Título: Aldo Rebelo lava as mãos
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/11/2005, País, p. A5

Presidente da Câmara joga para o Senado a responsabilidade sobre as assinaturas para a prorrogação da CPI dos Correios

BRASÍLIA - Aliado do governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) lavou as mãos e se eximiu do desgaste de interferir no processo de retirada de assinaturas para a prorrogação da CPI dos Correios. Aldo afirmou ontem que a Mesa Diretora do Senado deve ser a responsável pelas atitudes de alguns deputados visando a barras a continuação da comissão. Ele alega que a CPI é mista.

- A responsabilidade nas questões controversas sobre a comissão mista é da Mesa Diretora do Senado - argumentou.

A declaração veio no mesmo dia em que o deputado Carlos Willian (PMDB-MG) anunciou que vai à Mesa do Congresso para anular sua assinatura do pedido de continuação da CPI até abril.

- Esse é meu desejo. A Mesa tem de atendê-lo. Caso contrário, vou recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) - ameaçou Willian.

Se depender do presidente do Senado, Renan Calheiros, o STF será o destino de Willian. Para o senador, o prazo para que a operação ainda fosse efetuada expirou.

A situação é a mesma de Wladimir Costa (PMDB-PA) que também afirma ter tentado retirar sua assinatura, sem sucesso.

A confusão começou sexta-feira, quando a oposição conseguiu prorrogar por mais 120 dias o prazo da CPI dos Correios por uma assinatura de diferença. Era necessário o apoio de um terço das duas casas e que esses nomes se mantivessem até a meia-noite de quinta-feira. Vencido o prazo estipulado, foi anunciado que o requerimento seria arquivado por falta de uma assinatura na Câmara. A oposição, no dia seguinte, pediu a recontagem e conseguiu reverter o jogo e aprovou a prorrogação.

A manobra governista de retirar 66 assinaturas do requerimento fez o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) anunciar que vai solicitar a todos os ministros informações sobre liberação de verba de interesse dos 66.

Para o senador tucano, caso se comprove o pagamento de recursos aos parlamentares que voltaram atrás na prorrogação da CPI, estaria se configurando um novo mensalão.

- Respeito o parlamentar que se recusa a assinar um requerimento por convicções, mas não dá para admitir que se assine e depois resolva voltar atrás afirmou o senador.

Antero acusou o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter liderado a retirada das assinaturas. Para o senador, o governo transformou o Congresso ''em um mercado persa''.

A discussão se estender pelo feriado e se manter na pauta de amanhã. O Congressoconcentrou as audiências nas comissões e votações depois do feriado. A CPI dos Correios será ouvida na amanhã a ex-presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco. Ela teria assinado, pela empresa, contratos com as agências de publicidade SMPB e DNA, do empresário Marcos Valério. Carla também é acusada de ter contratado junto com o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, a multinacional de investigações privadas Kroll Associates para espionar executivos da Telecom Itália, que disputava com o Opportunity o controle da Brasil Telecom.

Também poderão ser ouvidos na sub-relatoria de Contratos, o franqueado dos Correios João Leite Netto e, na sub-relatoria de Fontes Financeiras, Solange Pereira de Oliveira, que trabalhou com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no partido. Na quinta-feira, o sub-relator para contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), apresenta relatório parcial sobre auditorias nos contratos da estatal.