Título: CPI do Mensalão prestes a acabar em pizza
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 15/11/2005, País, p. A5

Plenário vazio dificulta prorrogação

BRASÍLIA - A CPI do Mensalão está a um passo de ficar sem desfecho. Isto porque termina oficialmente amanhã o prazo de trabalho da comissão, que apura a suspeita de que o PT pagava uma mesada a parlamentares em troca de votos no Congresso. Para continuar operando e chegar a fechar um relatório final, os integrantes da CPI precisam recolher, até às 24h de amanhã, assinaturas de 171 deputados e 27 senadores para prorrogar a vigência da CPI, que começou no dia 20 de junho.

O prazo é praticamente impossível, já que com o feriado da Proclamação da República, o plenário da Câmara e do Senado ficaram vazios em Brasília desde ontem.

Das 198 assinaturas necessárias, os parlamentares encarregados de recolher rubricas a favor da continuação dos trabalhos conseguiram apenas 45. Na sexta-feira, quando o plenário ainda tinha quórum maior que o de ontem, o saldo era de 40 rubricas.

O senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), encarregado de conseguir apoio do Senado para prorrogar os trabalhos da CPI do Mensalão, conseguiu ultrapassar o mínimo de rubricas necessárias entre senadores para dar continuidade às investigações. Até sexta-feira, ele tinha obtido o apoio de 30 parlamentares.

Na Câmara, o deputado José Rocha (PFL-BA) não teve a mesma sorte. Até ontem, ele tinha conseguido apenas 15 assinaturas entre os deputados parlamentares. Faltam 156 rubricas favoráveis à continuação dos trabalhos.

A Câmara e Senado estavam vazios ontem, véspera do feriado. Em alguns gabinetes, não houve nem expediente. Foi o caso do gabinete do presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO).

O relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) garantiu que se não tiver prorrogação do prazo, entregará o relatório na quarta-feira. Na noite de ontem, ele admitiu, porém, que ainda não tinha começado a redigir o parecer.

- Quando um assunto está na nossa cabeça, é fácil de escrever - disse o deputado.

O relatório final de uma CPI deve ser votado em plenário. São grandes as chances de reprovação no caso de um parecer feito às pressas.

O principal risco é que a CPI acabe sem relatório final. Neste caso, ficaria sem conclusão a veracidade da denúncia do ex-deputado Roberto Jefferson sobre a existência do esquema.

Os deputados que estão sofrendo processo de cassação por envolvimento no esquema do mensalão, inclusive o deputado José Dirceu, acusado por Jefferson de ser o mentor intelectual do esquema, terão mais uma peça para apresentar em sua defesa: a falta de conclusões.

A CPI dos Correios teve seu prazo prorrogado com apenas uma assinatura além do número necessário, em uma dura disputa entre os governistas e a oposição no Congresso.