Valor Econômico, v. 20, n. 4969, 27/03/2020. Internacional, p. A12

G-20 promete fazer “o que for preciso” para atenuar crise

Assis Moreira
Daniel Rittner
Fabio Murakawa 


Os líderes das maiores economias, que formam o G-20, declararam guerra à pandemia da covid-19 e disseram estar injetando US$ 5 trilhões na economia global e criando esquemas de garantias para neutralizar os impactos social, econômico e financeiro do vírus.

Em reunião virtual de emergência, ontem, os líderes se comprometeram com a política do “whatever it takes” (o que for preciso), retomando a frase do ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, em 2012, que ajudou a atenuar a crise de dívida soberana na zona do euro.

“Estamos injetando mais de US$ 5 trilhões na economia global, como parte de medidas econômicas e fiscais específicas e de esquemas de garantia para combater os impactos sociais, econômicos e financeiros da pandemia”, disseram os líderes do G-20.

“Continuaremos a administrar apoio fiscal ousado e em larga escala”, acrescentaram. “A magnitude e o alcance dessa resposta vão recuperar a economia global e estabelecerão uma base sólida para a proteção dos empregos e a recuperação do crescimento.”

Os líderes destacaram a “absoluta prioridade” para enfrentar os impactos de saúde, social e econômicos do vírus. Desta vez, a retórica guerreira foi compartilhada por vários participantes, conforme o Valor apurou.

Na guerra contra a pandemia, o presidente da China, Xi Jinping, propôs uma plataforma para os países trocarem informações e protocolos de saúde pública. Frisou que é preciso colocar as pessoas e a saúde como prioridade. Disse que a vida está voltando à normalidade na China, mas que não perderá o foco, ou seja, ficará atento a uma nova onda do vírus. Xi frisou que a ajuda que recebeu de outros países nunca será esquecida. Para a China, o G-20 precisa trabalhar junto para manter o mercado financeiro estável e as fronteiras abertas ao comércio.

De seu lado, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou que fará tudo ao seu alcance para derrotar o vírus. Acenou com compartilhamento de futura vacina com os outros 148 países infectados pela covid-19. Mencionou o pacote de estímulo de US$ 2 trilhões.

“Estamos em guerra”, afirmou o diretor-geral da Organização Mundial de

Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi além: “Estamos em guerra com o vírus, e não estamos ganhando”. Ele destacou que demorou três meses para se atingir a marca de 100 mil casos confirmados de infecção; outros 100 mil foram infectados em 12 dias; em seguida, mais 100 mil novos casos foram registrados em quatro dias; e agora mais 100 mil novas infecções em um dia e meio. “Essa guerra precisa de um plano em tempos de guerra para enfrentá-la”, disse.

Na vez de falar da premiê alemã, Angela Merkel, o que se viu foi uma cadeira vazia. Mas os participantes ouviram a voz de Merkel, de quarentena, defendendo também cooperação global. Insistiu na necessidade de proteger as cadeias de abastecimento. Justin Trudeau, do Canadá, foi na mesma linha.

Boris Johnson, do Reino Unido, falou, mas ninguém ouviu, por causa de um problema de áudio. Uma fonte europeia disse que houve problemas também para ouvir o chefe de governo italiano.

O premiê Shinzo Abe relatou que o Japão tenta novas terapias para o vírus e que os resultados são promissores. Ele destacou que é importante o G-20 mostrar unidade neste momento.

Comissão Europeia, o braço executivo da UE, reiterou a necessidade de ação global nas frentes de saúde e econômica “para salvar vidas e evitar mais crise econômica”.

Já o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, manteve sua linha, conforme fontes em Brasília. Disse que proteger os mais vulneráveis significa garantir empregos. Ou seja, o G-20 precisa atuar também para preservar a atividade econômica e o emprego.

No comunicado, os líderes disseram estar determinados a atuar individualmente e coletivamente para: proteger vidas; salvaguardar empregos e renda; restaurar a confiança, preservar estabilidade financeira, reviver o crescimento; minimizar disrupções no comércio e nas cadeias globais de valor; fornecer ajuda aos países que precisam de assistência, e coordenar ações de saúde e financeiras.