Título: Governo chinês pede desculpas à Rússia
Autor: Clara Cavour
Fonte: Jornal do Brasil, 28/11/2005, Internacional, p. A8

O governo chinês fez ontem um raro pedido público de desculpas à Rússia. O motivo foi o vazamento de poluentes após a explosão de uma fábrica química na China. O acidente envenenou o rio Songhua, que se torna o Amur no país vizinho.

O pedido de desculpas veio após vários apelos da Rússia por mais informações sobre o vazamento de produ tos químicos e a ameaça que representam. Foi durante encontro do chanceler Li Zhaoxing com o embaixador russo, Sergei Razov.

Ontem, o serviço de água corrente foi parcialmente restabelecido neste domingo em Harbin, depois de cinco dias de interrupção em conseqüência do acidente. A cidade só terá fornecimento de água normal pela manhã. À tarde e à noite, será controlado. Na província de Heilongjiang, o governador Zhang Zuoji, cumpriu promessa feita há alguns dias e foi o primeiro a beber água depois do restabelecimento parcial do serviço en Harbin.

A camada de benzeno que foi liberada após explosões na fábrica petroquímica da região, em 13 de novembro, tem 80 quilômetros de extensão e só então deixou para trás a cidade de Harbin. Mas prossegue seu curso através do rio até a fronteira russa, a cerca de 600 km.

A última inspeção realizada ontem de manhã não detectou rastros de benzeno na principal fonte de abastecimento de água de Harbin, segundo informações de Lin Qiang, porta-voz do escritório de proteção do meio ambiente da Província de Heilongjiang.

A preocupação agora é com o impacto ambiental do acidente. A mancha de benzeno que se desloca sobre o rio Songhua representa uma ameaça a longo prazo para a saúde humana, além de pôr em perigo o frágil ecossistema da região.

Segundo Kenneth Leung, especialista em toxicologia da Universidade de Hong Kong, o benzeno depositado nos sedimentos do rio será assimilado pelos peixes e passará para a cadeia alimentar.

- O benzeno pode atacar o DNA e causar uma mutação que pode provocar câncer - afirmou o especialista.

Algumas organizações ligadas ao meio ambiente alegaram que a contaminação pode afetar o ecossistema e recordaram que a província se encontra numa floresta em que vivem numerosas espécies em perigo de extinção, como o tigre da Sibéria e os leopardos.

A massa de água contaminada, que demorou quase dois dias para passar completamente pela cidade, agora se dirige rumo a Amur, na fronteira entre China e Rússia. A expectativa, no entanto, é que ela se dissolva pouco a pouco à medida que os rios afluentes descarregarem suas águas no Songhua.