Título: Sinal amarelo
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/11/2005, Opiniao, p. A10

A cotação do dólar rompeu, enfim, o ciclo de dez quedas sucessivas. Ontem, a moeda americana voltou a subir, num avanço de 2,90%, a maior alta diária dos últimos dois meses. Embora não seja o único indicador relevante para aferir a qualidade e a robustez de uma economia, o câmbio valorizado constitui um péssimo sinal para um país como o Brasil. Motivada por motivos diversos - dentre os quais se incluem raízes políticas e econômicas -, a excessiva valorização do real frente à moeda americana, se mantida por prazos extensos, significa um risco, por exemplo, para os setores exportadores. Dólar mais baixo representa mercadoria produzida por aqui mais cara para ser vendida lá fora. Resulta, também, em menor volume de reservas internacionais e, logo, maior dependência de capitais financeiros globais.

Por tais motivos, especialistas defendem que um país em desenvolvimento precisa ter exportações e importações crescentes e balança comercial superavitária. O câmbio é peça fundamental - além, é claro, dos preços internacionais, das estratégias de conquistas de novos mercados e das políticas visando a uma maior competitividade de empresas e produtores agrícolas.

Dólar em queda e juros em alto acendem, em geral, o sinal amarelo do comércio exterior. Surpreendentemente, o Brasil vem apresentando musculosos saldos na balança comercial. Segue batendo sucessivos recordes, apesar da rota de queda da moeda americana. Para alguns, esses resultados seriam a prova de que não há desaquecimento nas vendas externas.

Uma meia verdade. O dólar baixo está, sim, causando estrago, mas de maneira desigual. O Brasil, afinal, apresenta hoje uma pauta de exportações bastante heterogênea. Há, portanto, setores em que a desvalorização da moeda americana não traz impacto porque têm poder de mercado e reajustam seus preços sem que o comprador reclame.

Tudo somado, convém prudência. Os preços das commodities internacionais (como ferro, café, açúcar, frango, suco de laranja e celulose) não permanecerão sempre elevados. Setores prejudicados (mas não à vista, devido ao notável desempenho de outros) também precisam ser preservados. Não se deve ainda cair na tentação de estabilizar o câmbio elevando os juros. E, acima de tudo, exige-se que não se abandone a consolidação do saldo comercial como premissa de saúde da economia.