O Globo, n. 32546, 15/09/2022. Política, p. 7

PL deixa sem fundo elei­to­ral 43% de seus can­di­da­tos

Dimitrius Dantas
Alice Cravo
Jussara Soares
Daniel Gullino


Dos 508 candidatos a deputado federal lançados neste ano pelo PL, o partido do presidente Jair Bolsonaro, 170 não haviam recebido nem um real da legenda até ontem, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisados pelo GLOBO. Entre os concorrentes do PL a uma cadeira de deputado estadual a situação é um pouco pior: dos 996 lançados, quase metade (481) está com o pires na mão.

Ao todo, 706 candidatos, 43% dos 1.610 lançados pelo PL, nada receberam dos R$ 310 milhões já distribuídos pela sigla. O valor é a soma da fatia do PL no fundo eleitoral e de uma sobra do fundo partidário, o que indica baixa probabilidade de novos repasses substanciais às campanhas.

— Parece que o partido virou as costas para nós, que não há interesse de mudança, que não querem novos candidatos — diz Jorge Gabriel de Almeida, que concorre à Câmara pela primeira vez pelo PL gaúcho sem apoio financeiro.

Faltam doações

Em média, cada candidato a deputado federal que conseguiu receber dinheiro do partido ficou com R$ 434 mil. A distribuição gera queixas dos que ficaram sem recursos e estimula uma romaria de candidatos à sede do PL para pressionar o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

— Se soubessem dividir igualitariamente, de forma democrática, para dar chances iguais para todos, seria o correto. Tem candidato que recebeu R$ 800 mil, R$ 500 mil, e outros chupando prego até virar parafuso — reclama Ricardo Leite, que disputa a Câmara pelo PL da Bahia e diz contar com doações de amigos.

Falta dinheiro até para a campanha de reeleição do presidente. Ontem, O GLOBO revelou que os coordenadores da campanha de Bolsonaro consideram as contas em um “ponto crítico” diante da frustração com as doações de pessoas físicas recebidas até agora. Na última semana, após pressão de candidatos, Valdemar publicou um vídeo dizendo que, se o partido não receber mais doações, as campanhas passarão por um aperto.

A origem do problema, dizem os candidatos, é o fato de o fundo eleitoral do PL ser calculado com base nos 33 deputados federais que elegeu em 2018. Com a entrada de Bolsonaro e de aliados, no fim de 2021, o PL inchou e se tornou a maior bancada da Câmara, com 77 deputados. Ao receber os bolsonaristas, Valdemar prometeu aos puxadores de votos recursos para turbinar a campanha, mas a distribuição ficou abaixo da expectativa dos novos integrantes.

— Eles dizem que o partido recebeu muitos deputados, nunca teve candidato a presidente da República, nunca teve tanto candidato a senador — afirma Clóvis Corrêa, que disputa uma vaga na Câmara por Pernambuco e diz ter sido informado pelo PL que não vai receber “nem um tostão”.

Quatro candidatos à Câmara pelo PL do Paraná — um negro e três mulheres — acionaram o próprio partido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) argumentando que ele descumpre as cotas raciais e de gênero na distribuição do dinheiro do fundo eleitoral. Pedem o bloqueio de R$ 2 milhões do caixa do PL, informou a coluna de Lauro Jardim no GLOBO.

Léo Índio sem verba

Beth Gonçalves, candidata a deputada federal pelo PL do Pará, enviou ao partido queixa similar. Ela diz que nem ela nem as outras cinco mulheres candidatas no estado receberam recursos até o momento:

— Estamos brigando pelos valores que são destinados a nós, mulheres. Como podemos fazer uma campanha sem ter recurso algum? — queixou-se.

— Se nós mulheres não fossemos usadas como bucha, estaríamos fazendo campanha com dignidade e respeito.

Na lista dos “sem-fundo” estão Léo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro que tenta vaga na Câmara distrital de Brasília, e cinco deputados federais em busca da reeleição: Joaquim Passarinho (PA), Carol de Toni (SC), Sanderson (RS), Marcio Alvino (SP) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP).

Ao GLOBO, Léo Índio disse, primeiramente, que tinha optado por fazer a campanha com voluntários e o dinheiro da venda de uma bicicleta e um relógio. Depois, em novo contato coma reportagem, disse que havia recebido repasses de R$ 50 mil. O valor, entretanto, ainda não aparece no sistema do TSE.

Sanderson, Passarinho e Orleans e Bragança informaram que são contra o fundo eleitoral e abriram mão da verba. Procurados, os outros citados não responderam.