O Globo, n. 32548, 17/09/2022. Economia, p. 15

Na pandemia, celular toma espaço de TV e computador nas casas

Raphaela Ribas
Carolina Nalin
Roberta de Souza


Na pandemia, a televisão e o computador perderam ainda mais o protagonismo nas casas brasileiras para os celulares. Enquanto o percentual de residências com aqueles aparelhos caiu, a parcela de famílias com smartphones cresceu de 94,4% em 2019 para 96,3% em 2021. É o que mostram os dados de Tecnologia da Informação e Comunicação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadTIC), divulgada ontem pelo IBGE. Ainda de acordo com a pesquisa, em 2021, 90% dos domicílios estavam conectados à internet, uma alta de 6 pontos percentuais (p.p.) em relação a 2019. Na área rural, a proporção de domicílios com acesso à rede subiu de 57,8% para 74,7%, enquanto na área urbana aumentou de 88,1% para 92,3% no período.

Por outro lado, ainda havia 28,2 milhões de pessoas desconectadas no país, o que representa 15,3% da população com mais de 10 anos. Em 2019, esse contingente era de 36,9 milhões de pessoas, ou 20,5%.

Os dados também confirmam uma tendência crescente nos últimos anos: o conteúdo audiovisual e de emissoras de TV, assim como o streaming, são cada vez mais acessados por diferentes dispositivos. Nos últimos cinco anos, a quantidade de casas apenas com celular vem crescendo: passou de 62% em 2016 para 72% em 2019. No ano passado, em meio à pandemia, saltou para 81%. Já o aparelho fixo foi saindo de cena e caiu à metade nesse período, consolidando o celular como o principal dispositivo de acesso à internet em casa.

— O smartphone hoje executa grande parte das tarefas que somente os computadores conseguiam no passado, como por exemplo estudar, assistir filmes, ouvir música e até mesmo trabalhar. Já as smarTVs simplificaram o acesso a conteúdos que antes dependíamos de um computador para consumir — avalia Guilherme Petersen, especialista em marketing e CEO da Ticto, plataforma de venda de produtos digitais. Os televisores e computadores já foram os itens mais valorizados nas casas brasileiras, tendo inclusive lugar de destaque em décadas passadas. Nos últimos anos, porém, foram sendo substituídos. Hoje, principalmente para os mais jovens, eles são considerados itens dispensáveis.

— Não tenho tempo nem espaço para televisão, mas não sinto nenhuma falta. Tudo que tem na TV eu consigo ver pelo celular. Sempre pago contas pelo celular e costumo resolver meus problemas por WhatsApp ou e-mail — conta a estudante carioca Elisa Donato, de 20 anos, que gasta em média sete horas por dia no smartphone se divertindo, estudando e resolvendo problemas do dia a dia.

De acordo com a pesquisa, a presença da televisão nas residências recuou de 96,2% em 2019 para 95,5% em 2021, mesmo com as pessoas ficando mais em casa durante os dois anos críticos da pandemia. Já o percentual de domicílios com microcomputador foi reduzido de 41,4% para 40,7%, e o de tablets, de 11,6% para 9,9% nesse período.

Banda fixa supera a móvel

Na comparação entre TVs e computadores, a televisão (44,4%) superou os computadores (42,2%) pela primeira vez em relação ao acesso à internet, refletindo a disseminação dos serviços de streaming e seu efeito nos consumidores.

— Tem uma priorização dos recursos mais escassos. O consumidor sacrifica o notebook para comprar a televisão conectada — explica Luca Belli, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio, que destaca também o fato de o smartphone ser uma opção de menor custo para as famílias em comparação a outros dispositivos. Segundo a pesquisa, o acesso à internet em casa superou o da rede móvel pela primeira vez em cinco anos. Ambas vinham aumentando desde 2016, mas de 2019 para 2021, sob o efeito da pandemia, o cenário mudou: a banda larga fixa (domiciliar ou de empresas) saltou de 78% para 83,5%, enquanto a móvel (celular) encolheu de 81,2% para 79,2%.

A banda fixa é maior do que a móvel nas regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste, sendo nesta última o registro mais expressivo. Há mais de 86% das casas nordestinas com conexão. À rede móvel, apenas 62,2%.

— O aumento do uso da banda larga fixa pode estar relacionado à pandemia, período em que as pessoas tiveram de manter o isolamento, ficando em casa, o que fez com que a banda larga móvel fosse menos utilizada. Outro motivo pode ser a expansão do acesso nas regiões Nordeste e Norte, onde o percentual dos domicílios com acesso via banda larga fixa teve incremento representativo, subindo de 54,7%, em 2019, para 70,5% em 2021 —explica a analista da pesquisa, Flávia Vinhaes.

Outra mudança que se acentuou na pandemia é a utilização da internet móvel, cujo uso para chamadas de voz ou vídeo ultrapassou o envio de mensagens de texto, áudios ou imagens. Usar a internet para enviar ou receber mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos ficou em 94,9% em 2021. As chamadas de voz ou vídeo ficaram em 95,7%.