Valor Econômico, v. 20, n. 4970, 28/03/2020. Política, p. A12

“Não é com agitação social que se combate o coronavírus”

Entrevista: Carlos Alberto dos Santos Cruz, Ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República


Atleta premiado da Academia Militar das Agulhas Negras, com recordes que permanecem até hoje, o ex-ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, não se fia no seu preparo físico para desafiar as regras da quarentena. Refugiou-se com a família em sua chácara, nos arredores de Brasília, e só pretende sair de lá quando tiver orientações, das autoridades sanitárias do país, de que é seguro voltar a pisar no asfalto.

Desde que deixou o governo, há oito meses, o general ocupou-se com consultorias às Organizações das Nações Unidas (ONU), instituição à qual serviu como comandante das forças de paz no Haiti. Depois de passar para a reserva, voltaria a assumir o mesmo posto no Congo.

Abriu um canal no YouTube e entrou no Twitter, onde tem se posicionado contra as diretrizes do “gabinete do ódio”, do qual foi a primeira vítima. Palestrante em eventos, foi alvo de muito assédio por parte de partidos, especialmente o PSDB, para que ingresse na carreira política, rumo que, por ora, não o atrai.

Egresso da infantaria do Exército, nunca deixou de montar a cavalo, hábito que, até a covid-19, mantinha, pelo menos duas vezes por semana, na hípica, em Brasília, onde tinha por parceiros o vice-presidente Hamilton Mourão e o comandante do Exército, Edson Leal Pujol.

Aos 67 anos, Santos Cruz tem passado a pandemia entre a manutenção da chácara e as notícias da radicalização do Palácio do Planalto. Só tem elogios para dois personagens que emergem da crise, o ministro Luiz Henrique Mandetta e o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, disse Valor Econômico, v. 20, n. 4970, 28/03/2020. Política, p. A12

“Não é com agitação social que se combate o coronavírus”
Entrevista: Carlos Alberto dos Santos Cruz, Ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República


Atleta premiado da Academia Militar das Agulhas Negras, com recordes que permanecem até hoje, o ex-ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, não se fia no seu preparo físico para desafiar as regras da quarentena. Refugiou-se com a família em sua chácara, nos arredores de Brasília, e só pretende sair de lá quando tiver orientações, das autoridades sanitárias do país, de que é seguro voltar a pisar no asfalto.

Desde que deixou o governo, há oito meses, o general ocupou-se com consultorias às Organizações das Nações Unidas (ONU), instituição à qual serviu como comandante das forças de paz no Haiti. Depois de passar para a reserva, voltaria a assumir o mesmo posto no Congo.

Abriu um canal no YouTube e entrou no Twitter, onde tem se posicionado contra as diretrizes do “gabinete do ódio”, do qual foi a primeira vítima. Palestrante em eventos, foi alvo de muito assédio por parte de partidos, especialmente o PSDB, para que ingresse na carreira política, rumo que, por ora, não o atrai.

Egresso da infantaria do Exército, nunca deixou de montar a cavalo, hábito que, até a covid-19, mantinha, pelo menos duas vezes por semana, na hípica, em Brasília, onde tinha por parceiros o vice-presidente Hamilton Mourão e o comandante do Exército, Edson Leal Pujol.

Aos 67 anos, Santos Cruz tem passado a pandemia entre a manutenção da chácara e as notícias da radicalização do Palácio do Planalto. Só tem elogios para dois personagens que emergem da crise, o ministro Luiz Henrique Mandetta e o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, disse o general, em entrevista ao Valor, por telefone, na noite de quinta-feira.

A seguir, os principais pontos.

Valor: Como o senhor tem se conduzido durante a pandemia?

Carlos Alberto dos Santos Cruz: O Ministério da Saúde tem um protocolo claro e eu o estou seguindo. Estou na chácara, aguardando as recomendações.

Valor: O senhor não vê orientações desencontradas hoje no governo?

Santos Cruz: Esta é uma crise complexa e sem solução fácil. Temos um ministro da Saúde muito consciente. É sempre possível se estudar o que é possível fazer para que a economia não pare, especialmente pela coordenação dos ministérios nas medidas a serem tomadas.

Valor: A pressão do presidente Bolsonaro para que a economia seja retomada não embute um risco?

Santos Cruz: Vivemos um problema em que a causa está na saúde e a consequência, na economia. É preciso ver os setores que precisam ser protegidos e como esse dinheiro pode chegar na ponta. A estratégia de abertura pode acabar se tornando perigosa se não for pensada com calma e sem paixão. Você pode acabar politizando o problema. Não dá para estabelecer um calendário de volta de maneira açodada.

Valor: O presidente tem se confrontado com a ciência, os governadores, o ministro da Saúde e, mais recentemente, com o vice-presidente, que tem defendido a quarentena. De tão isolado, acabou soltando um “o presidente sou eu”. Esse voluntarismo preocupa?

Santos Cruz: Que ele é presidente todo mundo sabe. Não é o conflito de posições que deve prevalecer, mas a busca do que é melhor para o país. Se o governo não se mostrar coordenado, isso traz insegurança à população. O ministro da Saúde tem se mostrado muito tranquilo desde o início desta crise.

Valor: O senhor teme que o presidente, para fazer valer sua vontade, provoque o caos social?

Santos Cruz: O combate à expansão do coronavírus não pode ser feito por força de agitação social. Botando gente na rua ou em carreata. A análise técnica cabe ao Ministério da Saúde e é a partir dela que deve se dar a coordenação interministerial. O uso das redes sociais deve refletir a segurança dos rumos tomados a partir de decisões técnicas e coordenadas.

Valor: Como o senhor avalia o pronunciamento do presidente em rede nacional na noite do dia 22?

Santos Cruz: Não foi um pronunciamento objetivo. O discurso do líder tem que ter uma base técnica. Não pode simplesmente achar. A população fica esperando uma diretriz. Se isso não acontece você só transmite insegurança.

Valor: Não lhe parece que o pronunciamento do general Pujol no mesmo dia foi na mão oposta?

Santos Cruz: O pronunciamento do comandante Pujol seguiu a diretriz do Ministério da Saúde. É a instância que hoje representa a visão técnica do governo no combate à pandemia. O general é extremamente responsável. Tem sob suas diretrizes 200 mil pessoas, além dos pensionistas e a família militar. Estava falando para esse público.

Valor: O senhor teme que o presidente esteja levando o confronto para o limite da institucionalidade?

Santos Cruz: Não é hora de tocar fogo com sensacionalismo. A população precisa acreditar no governo. E isso não vai acontecer sem serenidade e exemplo.

 o general, em entrevista ao Valor, por telefone, na noite de quinta-feira.

A seguir, os principais pontos.

Valor: Como o senhor tem se conduzido durante a pandemia?

Carlos Alberto dos Santos Cruz: O Ministério da Saúde tem um protocolo claro e eu o estou seguindo. Estou na chácara, aguardando as recomendações.

Valor: O senhor não vê orientações desencontradas hoje no governo?

Santos Cruz: Esta é uma crise complexa e sem solução fácil. Temos um ministro da Saúde muito consciente. É sempre possível se estudar o que é possível fazer para que a economia não pare, especialmente pela coordenação dos ministérios nas medidas a serem tomadas.

Valor: A pressão do presidente Bolsonaro para que a economia seja retomada não embute um risco?

Santos Cruz: Vivemos um problema em que a causa está na saúde e a consequência, na economia. É preciso ver os setores que precisam ser protegidos e como esse dinheiro pode chegar na ponta. A estratégia de abertura pode acabar se tornando perigosa se não for pensada com calma e sem paixão. Você pode acabar politizando o problema. Não dá para estabelecer um calendário de volta de maneira açodada.

Valor: O presidente tem se confrontado com a ciência, os governadores, o ministro da Saúde e, mais recentemente, com o vice-presidente, que tem defendido a quarentena. De tão isolado, acabou soltando um “o presidente sou eu”. Esse voluntarismo preocupa?

Santos Cruz: Que ele é presidente todo mundo sabe. Não é o conflito de posições que deve prevalecer, mas a busca do que é melhor para o país. Se o governo não se mostrar coordenado, isso traz insegurança à população. O ministro da Saúde tem se mostrado muito tranquilo desde o início desta crise.

Valor: O senhor teme que o presidente, para fazer valer sua vontade, provoque o caos social?

Santos Cruz: O combate à expansão do coronavírus não pode ser feito por força de agitação social. Botando gente na rua ou em carreata. A análise técnica cabe ao Ministério da Saúde e é a partir dela que deve se dar a coordenação interministerial. O uso das redes sociais deve refletir a segurança dos rumos tomados a partir de decisões técnicas e coordenadas.

Valor: Como o senhor avalia o pronunciamento do presidente em rede nacional na noite do dia 22?

Santos Cruz: Não foi um pronunciamento objetivo. O discurso do líder tem que ter uma base técnica. Não pode simplesmente achar. A população fica esperando uma diretriz. Se isso não acontece você só transmite insegurança.

Valor: Não lhe parece que o pronunciamento do general Pujol no mesmo dia foi na mão oposta?

Santos Cruz: O pronunciamento do comandante Pujol seguiu a diretriz do Ministério da Saúde. É a instância que hoje representa a visão técnica do governo no combate à pandemia. O general é extremamente responsável. Tem sob suas diretrizes 200 mil pessoas, além dos pensionistas e a família militar. Estava falando para esse público.

Valor: O senhor teme que o presidente esteja levando o confronto para o limite da institucionalidade?

Santos Cruz: Não é hora de tocar fogo com sensacionalismo. A população precisa acreditar no governo. E isso não vai acontecer sem serenidade e exemplo.