Correio Braziliense, n. 21811, 04/12/2022. Política, p. 4 
 
Ideias que transformam e inspiram 

Fernanda Strickland 


Leandro Lira, 41 anos, desenvolveu o primeiro software do Brasil a implementar o processo virtual em larga escala, o Projudi. Graças ao sistema, o trâmite dos processos judiciais passou a ser feito por meios eletrônicos, o que permitiu expandir a informatização dos cartórios e tribunais de Justiça do país e trouxe mais agilidade, eficiência e sustentabilidade ao meio jurídico. Ele é um dos vencedores do Prêmio Espírito Público, concedido a profissionais que se destacam na elaboração de projetos voltados à melhoria de qualidade dos serviços públicos. 

O Prêmio Espírito Público, criado para valorizar servidores públicos que transformam a realidade da população brasileira, anunciou, na última quarta-feira, os nove vencedores deste ano. A cerimônia de premiação ocorreu no Rio de Janeiro. A quinta edição do prêmio teve um total de 27 finalistas. Foram premiados cinco servidores públicos na categoria “Pessoas que transformam”, três “Projetos que transformam” e uma iniciativa de sucesso na categoria “Votação Popular”. (Veja no quadro ao lado) 

Na categoria “Pessoas que Transformam”, os vencedores foram Renata Valéria Sousa (PE), Leandro Lira (DF), Felipe Guimarães (SC), Joel Andrade (SC) e Kelly Cristina Carvalho (MA). 

Em “Projetos que Transformam”, os ganhadores foram o Programa Piauiense de Alfabetização na Idade Certa (PI), o Painel Interativo de Higiene de Mãos do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (MA) e o Outubro Movimente: De Repente a Gente Muda a Mente (MT). 

Na votação popular, venceu o projeto Educação Antirracista, da Secretaria de Educação de Cachoeira (BA). 

O Prêmio Espírito Público, criado em 2018, é uma iniciativa da Parceria Vamos, formada por Fundação Lemann, República.org e Instituto Humanize. Neste ano, os vencedores receberam valores que variam de R$ 10 mil a R$ 15 mil. 

Revolução digital 

Filho caçula de uma família de seis filhos, Leandro Lira foi incentivado desde cedo a investir em educação. Natural de Campina Grande (PB), encarou o desafio de cursar duas faculdades ao mesmo tempo, ainda que para isso tivesse que concluí-las em um ritmo mais lento. Admirado com a possibilidade de defender as pessoas, o primeiro curso que escolheu foi o de direito, na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). 

De acordo com Lira, a decisão se deu “muito mais pela causa do que pelo aspecto financeiro”. Depois, fez ciência da computação na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O seu trabalho de conclusão de curso transformou-se em uma grande revolução para o Judiciário brasileiro. Em 2004, com apenas 23 anos, apresentou o projeto que não só garantiu o seu diploma, como viria a se tornar o primeiro software do Brasil a implementar o processo virtual em larga escala, também conhecido como Processo Judicial Digital (Projudi). Em 2006, Leandro cedeu os direitos do trabalho desenvolvido ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que o convidou para orientar a execução como assessor da instituição. E foi assim que começou sua trajetória no serviço público, onde está há 17 anos, agora como analista concursado de tecnologia da informação da Anatel. 

Graças ao sistema Projudi, o trâmite dos processos judiciais passou a ser feito por meios eletrônicos, o que permitiu expandir a informatização dos cartórios e tribunais de Justiça do país e inspirou diversos órgãos a seguirem o mesmo caminho. “Foi bem desafiador, porque era não só a questão do desenvolvimento computacional, mas quebrar barreiras culturais”, conta Leandro. “Primeiro, porque tinha a resistência do próprio meio jurídico, que é muito tradicional, e nós não éramos funcionários de um Tribunal de Justiça, éramos estudantes. Precisamos romper barreiras, apresentar algo útil e convencer as pessoas disso. Construímos o Projudi de forma heroica.”