O Globo, n. 32548, 17/09/2022. Política, p. 10

Dis­puta para o Senado repro­duz pola­ri­za­ção naci­o­nal

Malu Mões


Em uma reprodução da polarização nacional, o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT), que integra a chapa petista no estado e tenta se associar ao ex-presidente Lula, rivaliza com o ex-ministro bolsonarista Rogério Marinho (PL) pela vaga no Senado. Os dois estão empatados tecnicamente, no limite da margem de erro, com Carlos Eduardo à frente. O candidato do PDT segue um roteiro diametralmente oposto ao que adotou há quatro anos. Naquela eleição, quando disputou para governador, ele apoiou para presidente o então candidato Jair Bolsonaro. A mudança não agradou toda a sua base. — Carlos Eduardo, além de se aliar à sua adversária, também traiu o bolsonarismo no estado, que lhe dera grande base de votos na eleição anterior sobretudo na capital — diz a cientista política e professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) Andréa Linhares. Mesmo com seu correligionário Ciro Gomes (PDT) na corrida presidencial, Carlos Eduardo tenta se beneficiar da imagem de Lula . O petista aparece em sua propaganda de TV pedindo voto para o exprefeito e o colocando como seu candidato ao Senado.

Esquerda dividida

Carlos Eduardo, no entanto, procura evitar atritos com Ciro, deixando um engajamento maior na campanha do petista para um eventual segundo turno contra Bolsonaro. Se por um lado o pedetista não assume por completo seu apoio a Lula, o candidato ao Senado do PSB, deputado federal Rafael Motta, faz esse papel, deixando a esquerda dividida. “Somos o único candidato ao Senado no RN que apoia a sua eleição (de Lula)”, diz a legenda de um vídeo do deputado em que aparecem fotos dele com Lula e seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB) no Instagram. O candidato do PSB tentou impedir na Justiça o uso da imagem de Lula pelo ex-prefeito, mas perdeu. O enfrentamento entre os dois, porém, não é o principal duelo desta eleição. Carlos Eduardo tem como principal adversário o ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PL). Pesquisa do Ipec divulgada no último dia 9 mostra os dois empatados tecnicamente no limite da margem de erro.

O candidato do PDT tem 27% das intenções de voto e o do PL, 21%. A margem de erro é de três pontos percentuais. Motta aparece em terceiro, com 14%. Marinho tenta colar sua imagem à do presidente, mas explora principalmente o cargo que exerceu em Brasília. Posiciona-se na disputa como “senador das águas”, referindo-se à transposição do rio São Francisco, iniciada no governo Lula e finalizada sob Bolsonaro. O tempo como ministro do Desenvolvimento Regional ainda lhe rendeu alianças com prefeitos. Contudo, esse período não traz apenas lucros. Seus rivais o atacam por causa do orçamento secreto — caso que foi inicialmente revelado na pasta de Marinho. O candidato do PL, que foi deputado federal, também é criticado por ter sido o relator da reforma trabalhista no governo de Michel Temer (MDB).