Valor Econômico, v. 20, n. 4971, 31/03/2020. Brasil, p. A6
Com mais 3 meses de isolamento, PIB cai 1,8%, estima Ipea
Bruno Villas Bôas
A pandemia do coronavírus pode provocar perda de 0,4% a 1,8% do Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro em 2020, a depender da duração de isolamento social,
mostra o documento “Visão geral de conjuntura”, do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea).
Se
o isolamento durar mais um mês (até o fim de abril), a queda do PIB será de
0,4%, conforme cálculos do Ipea. Caso o tempo de isolamento dure mais dois
meses (até o fim de maio), a retração será de 0,9%. E, se perdurar mais três
meses, a retração será de 1,8%.
No
fim do ano passado, quando divulgou a versão anterior do documento a
expectativa do Ipea era de crescimento de 2,3% do PIB deste ano.
José
Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor da área macroeconômicas do Ipea,
explica que o documento trabalha com cenários sem atribuir probabilidades de
ocorrerem. O motivo é a incerteza sobre os próprios aspectos
epidemiológicos associados ao novo vírus.
“Quanto
maior a duração do isolamento, maior será a dificuldade de a economia se
recuperar no período posterior. Isso não implica, porém, qualquer juízo de
valor em relação à necessidade das medidas restritivas para conter a velocidade
de disseminação”, avalia.
“O
custo em termos de PIB é crescente porque, mesmo com medidas mitigadoras
bem-sucedidas, os riscos de falências e de demissões aumentam quanto maior for
o tempo em que as empresas ficam com perda muito grande (ou total) de
faturamento”, acrescenta.
No
documento, os pesquisadores reconhecem, porém, as dificuldades de realizar
projeções. “Dado o ineditismo do choque sobre a economia mundial, fazer
projeções macroeconômicas com um nível razoável de confiança tornou-se tarefa
muito difícil.”
O
Ipea calcula que o pior momento de retração do PIB de 2020 será no segundo
trimestre. Dessazonalizado, o PIB vai recuar 3% ante o primeiro trimestre se o
isolamento durar mais um mês. A queda seria intensificada para 5% e 9% nos dois
outros cenários.
Setores
como transporte aéreo, hotéis e atividades artísticas, criativas e espetáculos
foram praticamente paralisados ou reduzidos a uma parcela ínfima do normal.
Apenas segmentos específicos do comércio devem crescer, como supermercados e
farmácias.
“A
queda do segundo trimestre é dominada pelo fator doméstico. O mesmo
raciocínio não pode ser extrapolado para o ano, já que supomos que a piora nas
condições externas perdurará pelo ano de 2020.”
Nos
três cenários de extensão do isolamento, a hipótese é de uma rápida recuperação
parcial da atividade econômica no terceiro trimestre. Este cenário dependerá,
porém, da efetividade das políticas econômicas adotada no Brasil e em
outros países.
“A
recuperação da atividade econômica será consequência natural da suspensão
gradual das medidas restritivas. Além disso, quanto maior a queda, maior a
recuperação na margem por conta do efeito de base.”
Nos
cálculos do Ipea, as medidas anunciadas pelo governo já superam os R$ 300
bilhões. A rápida volta da atividade não implica, contudo, recuperação completa
do PIB, que sofrerá os efeitos colaterais da interrupção abrupta da economia.