O Globo, n. 32550, 19/09/2022. Política, p. 6

‘Absurdo matar por causa de política’

Entrevista: Marcos Pontes


O senhor adota um discurso similar ao de Bolsonaro dizendo que poderia “sacrificar a própria vida” pelo país. Esse discurso não estimula violência política?

Não. Sou militar, da reserva da Força Aérea. Tenho como obrigação por lei defender o país com o sacrifício da própria vida se for necessário. Agora, não significa incentivar a violência. Acho um absurdo uma pessoa matando a outra por causa de política. Você tem que conviver com o contraditório. Opiniões diferentes fazem parte.

Caso o senhor seja eleito senador, Lula, presidente e Haddad, governador, o senhor vai colaborar com os petistas?

Você precisa ser uma oposição inteligente. Nunca pode ser contra pautas que são boas para a população. Tem que defender os interesses do estado. Agora, sou contra a ideologia de gênero, aborto, corrupção, liberação de drogas. Se o governo estadual ou federal fizer qualquer proposta que vá contra valores que defendo, vou ter que ser oposição.

Uma dificuldade como ministro da Ciência de Bolsonaro foi o baixo orçamento. Como pretende conseguir mais verba para a área como senador?

A pandemia reduziu o orçamento de todos os ministérios. Orçamento em ciência e tecnologia não é gasto, é investimento. Esses recursos colocam milhões para bolsas (de pesquisa), vacinas, saúde, agricultura, parques tecnológicos e centros de formação. Com Ciência forte é que o Estado vai conseguir melhorar as outras aplicações (de recursos), como segurança pública e saúde. No Senado, vou continuar a lutar. Sou contra qualquer tipo de corte no orçamento de Ciência. Meu foco será a Comissão de Ciência e Tecnologia, tentar assumir a presidência.

Bolsonaro é contra cotas universitárias. Caso seja eleito, o senhor será a favor dessa política?

Eu vim da periferia. Sei que tem muitos jovens, negros ou brancos, que precisam de oportunidade. Vejo a política de cotas como importante, não só de cotas raciais, mas de (cotas por) capacidade financeira.

O senhor já é suplente de uma vaga no Senado, atualmente ocupada por Giordano (MDB). Se o senhor for eleito e eventualmente Giordano deixar o cargo, São Paulo pode ficar com um senador a menos. Não seria prejudicial?

Não aconteceria de São Paulo ficar sem um senador. Giordano não tem intenção de deixar o Senado e a possibilidade dele morrer é muito remota. Se acontecer, vai ser substituído como prevê a lei.