Título: Munição ao alcance do crime organizado
Autor: Gustavo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2005, Rio, p. A13

Apesar de ainda não haver suspeitas de relação com o crime organizado, a apreensão de terça-feira não é um caso isolado de desvio de munição das Forças Armadas no Rio de Janeiro. Um paiol com com oito minas terrestres antipessoais, 161 granadas e cerca de 30 mil cartuchos para oito tipos diferentes de armas na Favela da Coréia, Bangu, foi desbaratado por agentes do Setor de Inteligência da Polícia Civil (Sintpol), em abril do ano passado. Os policias chegaram ao paiol na favela, comandada pelo traficante Robson Andrade da Silva, o Robinho Pinga, depois de dois meses de investigação. Na época, a polícia suspeitou que as granadas e espoletas tinham sido desviadas de quartéis da Aeronáutica. Durante as investigações sobre a procedência das granadas, representantes da empresa RJC Aerospacial, localizada na cidade de Lorena, interior de São Paulo, afirmaram que 8.500 unidades apreendidas foram vendidas à Aeronáutica. No entanto, o comando da força informou que nenhum artefato desapareceu de seus quartéis em todo o país. O Exército também negou que as minas foram extraviadas de suas organizações militares.

No paiol, boa parte da munição - para os fuzis de calibre 762 e 556, pistolas 0.40, 0.45, 9 milímetros, 380, metralhadora 0.50 (munição antiaérea e antitanque) e para escopeta calibre 12 - estava embalada para ser distribuída. O material foi encontrado em prateleiras de um quarto subterrâneo de 3 metros quadrados por 2,5 metros de altura. De acordo com a polícia, Robinho Pinga está entre os maiores distribuidores de armas e drogas do Terceiro Comando.

O ex-policial militar Helder Marques da Cruz foi apontado pela polícia como chefe de segurança e armeiro do bando de Robinho Pinga, que seria o dono do arsenal. Na mesma semana da localização do paiol, Cruz estava internado com um ferimento por tiro. O ex-PM estava em liberdade condicional desde 2002, depois de cumprir um terço da pena de uma condenação por roubo, em 1999. Por causa do crime, ele foi expulso da polícia, mas havia entrado na Justiça com um pedido de reintegração.