Correio Braziliense, n. 21831, 24/12/2022. Política, p. 4

Governo aposenta diretor da PRF

Luana Patriolino


A Polícia Rodoviária Federal (PRF) concedeu aposentadoria voluntária a Silvinei Vasques, recém-exonerado da chefia da corporação, réu por improbidade administrativa e alvo de investigação por suposta prevaricação. Silvinei tem 47 anos. Ele ingressou na PRF em 1995 e deixa a corporação aos 27 anos de carreira de policial rodoviário federal.

A informação consta de portaria publicada no Diário oficial da União (DOU) desta sexta-feira, 23. O documento é datado de 21 de dezembro, última quarta-feira, e assinado pelo diretor de Gestão de Pessoas da PRF, Marcos Alves Pereira.

Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Silvinei é acusado de improbidade administrativa e uso indevido do cargo para beneficiar a candidatura do chefe do Executivo nas eleições de outubro passado. No último dia 6, foi escolhido para uma cadeira na Comissão de Coordenação da Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro.

Investigação PF

No mês passado, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a atuação de Silvinei Vasques diante das manifestações bolsonaristas que bloquearam as rodovias federais. O objetivo é apurar se a corporação cometeu eventuais abusos desde o segundo turno da eleição.

O primeiro fato a ser averiguado é a conduta do diretor da corporação na realização de blitz da PRF em 30 de outubro —  dia do segundo turno no país. Na data, moradores do Nordeste usaram as redes sociais para denunciar operações da corporação nas estradas da região. De acordo com eles, os agentes colocaram barricadas em vários pontos, atrasando a votação dos eleitores.

A PF ainda investiga se Vasques teve uma conduta omissa em relação aos bloqueios de rodovias feitos por manifestantes bolsonaristas. Inconformados com o resultado nas urnas —  que teve o candidato Jair Bolsonaro (PL) como derrotado — caminhoneiros e outros apoiadores do chefe chefe do Executivo bloquearam estradas com violência  incitações golpistas.

Outra polêmica acerca do caso é que um dia após o Ministério Público Federal (MPF) pedir o afastamento do diretor-geral da PRF, a corporação decretou férias do chefe do órgão.  O órgão solicitou a retirada dele do cargo  por um período de 90 dias e uma investigação por improbidade administrativa. Segundo a procuradoria, Vasques deve responder por uso indevido da função, com desvio de finalidade, além de símbolos e imagem da instituição policial para favorecer Jair Bolsonaro.

O MPF também lembrou uma postagem de Silvinei Vasques nas redes sociais, um dia antes da votação do segundo turno, pedindo voto para Bolsonaro, então candidato à reeleição. “Não é possível [...] dissociar da narrativa desta inicial a possibilidade de que as condutas do requerido, especialmente na véspera do pleito eleitoral, tenham contribuído sobremodo para o clima de instabilidade e confronto instaurado durante o deslocamento de eleitores no dia do segundo turno das eleições e após a divulgação oficial do resultado pelo TSE”, argumentou à época o procurador da República Eduardo Benones.

 

Investigado por agressão

 Silvinei Vasques já respondeu por agredir fisicamente um funcionário de um posto de combustível em Goiás. O caso, ocorrido em outubro de 2000, rendeu à vítima uma indenização de R$ 53 mil pagos pela União. A Advocacia-Geral da União (AGU) cobra de Vasques o ressarcimento da despesa. A preço de hoje, são R$ 99 mil.

A agressão ocorreu em um posto no município de Cristalina, há 22 anos. À época, ele era o chefe de uma delegacia da PRF em Joinville (SC). Um comboio seguia do Sul para um treinamento em Brasília, quando parou no posto de combustível da cidade goiana, considerado uma base da corporação para reabastecimento.

Ao Estadão, o homem, que pediu para não ter o nome publicado, diz que foi espancado por ter feito corretamente o seu trabalho de organizar o funcionamento do posto e que ainda sente medo quando um carro da PRF se aproxima.(Com Agência Estado)