Título: Capital vive o seu dia de Cabul
Autor: Cristiane Madeira
Fonte: Jornal do Brasil, 24/11/2005, Brasília, p. D1

Alarme começa com alerta no Congresso e cria força com prisão de adolescente que portava bomba e ameaças a embaixada

Coincidências, brincadeiras de mau gosto e histórias mal contadas fizeram Brasília viver dois dias de Cabul, capital do Afeganistão. De repente, ameaças de bombas e atentados de grupos terroristas se espalharam pela cidade deixando em alerta estações de metrô, polícia e até o Senado Federal. A princípio, porém, tudo não passa de informações dispersas e exageradas. Nada foi confirmado pelas polícias civil e federal, encarregadas de investigar as ameaças. A história começou na terça-feira, quando a recém criada Polícia Legislativa - um órgão do Senado - mandou um e-mail para todos os servidores da casa, alertando sobre um possível ataque terrorista ao Congresso. A orientação era para que os funcionários ficassem atentos a pessoas suspeitas, malas e sacolas abandonadas em salas e corredores. Qualquer movimento fora do comum deveria ser imediatamente comunicado. Nota divulgada na edição de ontem de um jornal de circulação nacional reforçou o clima, ao apontar que a ameaça teria vindo de um grupo terrorista criado nas imediações do Distrito Federal, que estaria sendo treinado por fanáticos paquistaneses. A notícia era de que a polícia civil teria interceptado e-mails do suposto grupo, onde diziam ter intenções de explodir bombas na Congresso Nacional e em um shopping de Brasília. Indagado sobre que fundamentos teriam para fazer esse alerta dentro do Senado, um integrante da Polícia Legislativa, que não quis se identificar, informou apenas que o risco foi descoberto por meio de investigações dos órgãos de defesa, e não por denúncias anônimas. Ele confirmou, ainda, a relação da suspeita com organizações extremistas, mas se recusou a dizer as características do suposto grupo, alegando que a divulgação deste tipo de informação comprometeria as investigações. - A polícia está sob alerta, mas não podemos divulgar mais nada sobre o caso - disse. No mesmo dia do e-mail, não houve explosões no Senado, mas uma bomba de fabricação caseira deixou muita gente assustada na estação do metrô do ParkShopping. Segundo informações da Polícia Civil, tudo não passou de brincadeira de mau gosto de um adolescente de 15 anos. O rapaz explodiu uma bomba incapaz de causar ferimentos graves em alguém, mas que gerou tumulto e correria. O autor do alarde foi levado pela polícia. Como se não bastasse, um alarme falso levou os policiais à mesma estação de metrô na manhã de ontem, mas nada foi encontrado. Passado o susto, a polícia civil recebeu uma ligação da Embaixada do Iraque, avisando que o lugar estava sob ameaça de ataque, e os funcionários, jurados de morte. Procurada, a embaixada confirmou o recebimento de ligações, mas associou as ameaças a trotes de crianças. - Pode ser brincadeira, mas denunciamos por precaução - disse um funcionário da embaixada que se identificou apenas como Havin. Imaginar Brasília sob ataques terroristas é algo novo para muita gente. Para quem anda de metrô, a idéia de um atentado contra as estações é difícil, mas não impossível. Para as estudantes Rafaela Félix, 19 anos, e Rayara Toledo, 17 anos, tudo pode acontecer. - Já imaginamos muita coisa no metrô. Falta de luz, bomba, mas sei que é difícil acontecer porque a segurança é rigorosa - avalia Rayara. - Eles não nos deixam fazer nada, nenhum tipo de bagunça. Quem dirá andar com bombas - brinca Rafaela, referindo-se aos seguranças do metrô. O atendente de lanchonete, Thiago Lopes, 22 anos, diz que no Brasil, as pessoas não estão habituadas a viver esse tipo de situação. - A possibilidade de explodir uma bomba é assustadora. Isso pode ser tradição em outros países, mas mesmo assim, nenhum lugar do mundo está imune - opina. O assistente administrativo, Nilvan Gomes, 44 anos, compartilha a opinião de Thiago, mas reclama da falta de segurança em geral. - Não só explosões de bombas podem acontecer no metrô, mas também outros casos perigosos. Isso é reflexo da falta de recursos - diz.