O Globo, n. 32554, 23/09/2022. Política, p. 5

FH pede a elei­to­res voto em favor da demo­cra­cia

Guilherme Caetano
Sérgio Roxo
Jeniffer Gularte
Fernanda Trisotto


Em sua primeira manifestação no período eleitoral, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ( PSDB) publicou ontem uma nota em que defende um voto em favor de valores democráticos em 2 de outubro, data do primeiro turno das eleições. Com recados indiretos a Jair Bolsonaro (PL), o texto não cita o presidente e nem o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem recebendo a adesão de nomes ligados ao PSDB. Mesmo sem apoio explícito, Lula agradeceu as palavras de FH, e seus aliados viram a nota como um gesto em favor do petista.

A avaliação no PT é que a nota ajuda o movimento pelo voto útil para Lula vencer no primeiro turno. FH também não cita Simone Tebet (MDB), cuja coligação é integrada pelo PSDB, mas enumera pautas enfatizadas por Lula, como o combate à pobreza e à desigualdade. O tucano recomenda o voto em candidatos comprometidos com a ciência, o meio ambiente, a diversidade e as instituições democráticas.

“Peço aos eleitores que votem no dia 2 de outubro em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual, se orgulha da diversidade cultural da nação brasileira, valoriza a educação e a ciência e está empenhado na preservação de nosso patrimônio ambiental, no fortalecimento das instituições que asseguram nossas liberdades e no restabelecimento do papel histórico do Brasil no cenário internacional”, diz o texto.

‘Não tenho mais energia’

O ex-presidente, de 91 anos, faz menção a limitações físicas que o afastam da cena política: “Como é do conhecimento público, tenho idade avançada e, embora não apresente nenhum problema grave de saúde, já não tenho mais energia para participar ativamente do debate político pré-eleitoral”, diz o trecho inicial. Em março, FH fraturou o fêmur e foi submetido a uma cirurgia.

Segundo a colunista do GLOBO Bela Me gale, anota de FH foi costurada por diversas mãos e articulada por seus três filhos coma Fundação FHC. Todos consideravam importante uma manifestação do ex-presidente em favor do voto democrático, em contraposição a Bolsonaro. Uma redação foi apresentada a FH, que aprovou a divulgação.

Após a publicação da nota, o perfil oficial do PSDB no Twitter afirmou que o partido tem candidata, Tebet, e que “primeiro turno é para votar no melhor ”, rechaçando a campanha pelo voto útil incentivada pelo PT. Tebet disse que FH menciona bandeiras que são “acarada nossa candidatura ”, mas foi Lula quem agradeceu:

— Para mim, todo apoio que vier para agente levares sa eleição logo é melhor para todo mundo. Agradeço às pessoas que estão demonstrando confiança agora. Fico feliz, obviamente, agradecido, e espero que mais gente saiba oque está acontecendo no Brasil e que mais gente se defina, porque a chapa Lula e Alckmin efetivamente é a que pode ser eleita para recuperares se país— afirmou, à tarde, res saltando que ainda não tinha lido o texto se via como um apoio à sua candidatura.

Coordenador do programa de governo do PT, o ex-senador Aloizio Mercadante disse que para “bom entendedor meia palavra basta”. Para o deputado Rui Falcão (PT-SP), que atua na comunicação da campanha, não há dúvidas: —É uma declaração de voto. Nessa linha, o deputado Márcio Macedo (PT-SE), tesoureiro da campanha do PT, avaliou que o estilo de FH não permitiria fala mais direta:

— A minha leitura é que ele (FH) está defendendo a história do Lula, e o que o Lula está defendendo. Um apoio à democracia, ao Lula, à civilização contra a barbárie.

Lideranças petistas vêm tentando convencer eleitores indecisos ou de Ciro Gomes (PDT) e Tebet de que é melhor eleger Lula no primeiro turno para evitar qualquer chance de Bolsonaro virar o jogo no segundo. Para tal, Lula precisaria de 50% dos votos válidos mais um, o que as pesquisas apontam como uma possibilidade na margem de erro.

Anota de FH vem na sequência da declaração de apoio de nomes ligados ao PSDB a Lula, como Sergio Fausto, diretor-geral da Fundação FHC, Miguel Real e Jr., jurista que foi um dos autores da peça que baseou o impeachment de Dilma Rousseff, e José Gregori, ex-ministro de FH. Além do ex-governador Geraldo Alckmin, que trocou o PSDB pelo PSB para compor a chapa de Lula, outros tucanos históricos já declararam apoio ao petista.