Valor Econômico, v. 20, n. 4971, 31/03/2020. Empresas, p. B2

Eletrobras adia previsão de privatização para 2021

Rodrigo Polito



A Eletrobras já trabalha com o adiamento do processo de capitalização, que resultará na privatização da empresa, para 2021. A operação, que estava nos planos da companhia para ocorrer ainda neste ano, deverá ser postergada devido aos efeitos da pandemia do novo coronavírus.

“[A privatização deve ocorrer] só em 2021”, disse ontem o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, em entrevista coletiva sobre o resultado da elétrica em 2019, um lucro de R$ 10,7 bilhões.

Segundo o executivo, diante do novo cenário, o projeto de lei 5.877/2019, que trata do plano de capitalização e privatização da Eletrobras e estava previsto para ser apreciado pelo Congresso no primeiro semestre, deverá ser discutido na segunda metade do ano. Isso porque, os parlamentares deverão se concentrar neste momento nos temas emergenciais de combate aos efeitos da crise gerada pela pandemia.

“Acredito que o governo deve enfrentar primeiro essas prioridades que ele está colocando agora. Tem muita coisa para ser tratada no que diz respeito às emergências”, disse o executivo. “A gente trabalhava com a perspectiva de ter o PL aprovado no primeiro semestre. Muito provavelmente, ele vai se deslocar para o segundo semestre”, completou.

O efeito do surto do coronavírus também afetou o recém-lançado plano de negócios da empresa para 2020-2024, que prevê investimentos de R$ 32,4 bilhões ao longo do período. Segundo Ferreira, o plano foi elaborado com base em premissas adotadas antes da pandemia. Com isso, o conselho de administração deliberou que a empresa faça uma reavaliação do documento até o fim de maio.

Dos R$ 32,4 bilhões de investimentos previstos, R$ 13,9 bilhões são referentes à conclusão da usina nuclear de Angra 3. Ferreira explicou que essa quantia não deverá ser desembolsada pela Eletrobras, e sim pelo parceiro internacional que venha a fechar negócio, por meio da chamada pública que o governo pretende realizar, no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

Com relação à usina, a Eletrobras adiou em onze meses a previsão de início de operação do projeto, para novembro de 2026.

Questionado anteriormente em teleconferência com analistas sobre a situação atual da Eletrobras para lidar com a crise, Ferreira disse que a empresa possui um caixa robusto, de R$ 6,8 bilhões (incluindo as subsidiárias, esse montante sobre para R$ 10,8 bilhões). “Temos uma posição robusta de caixa. Isso é muito importante para enfrentar esses dias”, completou.

O executivo contou que, para este ano, estava prevista uma operação de rolagem de dívida com vencimento para 2021. Ele, no entanto, disse que a companhia não precisa de captações, nem de aportes, para cumprir o programa de investimentos deste ano. De acordo com o plano 2020-2024, a Eletrobras prevê investir R$ 5,3 bilhões. Ferreira, porém, disse que a empresa tem investido cerca de R$ 4 bilhões por ano.

Com relação à venda de ativos, a Eletrobras prevê alienar a participação em 39 sociedades de propósito específico (SPEs) até o fim deste ano. A meta da empresa é fechar 2020 com 62 SPEs.