Valor Econômico, v. 20, n. 4971, 31/03/2020. Empresas, p. B5

Cesta básica digital vai beneficiar 27 mil famílias

Marília de Camargo Cesar 


Cerca de 10 mil moradores de favelas nas zonas Norte e Leste de São Paulo e na Grande Belo Horizonte começaram a receber ontem um cartão pré-pago, com crédito de R$ 100, para gastar em supermercados. A entrega dos vales-refeição, fornecidos pela Ticket, deve terminar hoje, mas durante esta semana, outras 17 mil pessoas que moram em comunidades pobres nos Estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul receberão o presente.

A iniciativa, chamada de “cesta básica digital”, foi concebida pela ONG Gerando Falcões na semana passada e operacionalizada em tempo recorde, neste último fim de semana, com apoio de diversas empresas.moram em comunidades pobres nos Estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul receberão o presente.

A iniciativa, chamada de “cesta básica digital”, foi concebida pela ONG Gerando Falcões na semana passada e operacionalizada em tempo recorde, neste último fim de semana, com apoio de diversas empresas. “Nosso primeiro contato telefônico foi na sexta-feira às 14h, e hoje (ontem), às 9 da manhã, os cartões já estavam sendo distribuídos. Foi uma operação de guerra”, afirmou Francisco Dionísio, diretor de operações da Ticket.

O contato a que se refere foi com Edu Lyra, presidente da ONG, cujo trabalho o executivo já conhecia. “Fiquei muito comovido quando ele me procurou com a proposta. A situação nas favelas é crítica, as pessoas estão passando necessidade. É muito prazeroso poder participar.”

A Ticket mobilizou cerca de 50 pessoas para ajudar na campanha, que envolveu a fabricação dos plásticos, personalização, envelopamento, logística de distribuição, entre outros esforços. Dionísio disse que não calculou o investimento e nem pretende fazê-lo. “Não queremos saber, isso agora não é importante.”

A Accenture entrou com apoio tecnológico, desenvolvendo uma plataforma para controlar a entrega dos benefícios. A empresa criou, também durante o fim de semana, um aplicativo que será usado pelos líderes das comunidades que receberão os cartões e terão de comprovar que o benefício chegou na mão das pessoas cadastradas. “A evidência da entrega pode ser uma foto que ele baixa no aplicativo, por exemplo”, explicou Leonardo Framil, CEO da Accenture.

A companhia investiu R$ 1 milhão pró-bono na ação, que começou no sábado, também com um telefonema de Edu Lyra para o executivo. “Nós já apoiávamos a Gerando Falcões, com consultorias e iniciativas de tecnologia. Montamos um time rapidamente porque sabemos que a necessidade é grande nas comunidades.”

Framil se disse impressionado com a rápida mobilização de colaboradores e de outras empresas neste momento crítico. “Parece que esta crise fez aflorar um sentimento novo, um desejo de nos unirmos em torno de uma boa causa e esquecermos um pouco as divisões.”

Os recursos para o crédito nos cartões pré-pagos que estão sendo distribuídos foram levantados por meio de um fundo, criado pela ONG. Segundo Edu Lyra, quando começou a quarentena e fechamento de empresas, por causa do coronavírus, ele logo soube que os mais pobres seriam os mais atingidos. “Criamos um fundo para ajudar essas pessoas, e logo levantamos R$ 5 milhões. Outras empresas ficaram sabendo e o valor subiu para R$ 8 milhões em alguns dias”, afirmou.

A distribuição de cartões vai beneficiar 70 favelas no total. Haverá duas novas recargas de R$ 100, em maio e junho, num total de três meses de benefício. Lyra calcula que cerca de 130 mil pessoas serão ajudadas. Alelo e Zup também apoiaram a iniciativa.

A lista de doadores tem nomes como Jorge Paulo Lemann (AB InBev), Abilio Diniz (Península), Pedro Bueno (Dasa), Olavo Setubal Jr. (Itaú), David Feffer (Suzano), Rubens Menin (MRV), Eugênio Mattar (Localiza) e os sócios da 3G Capital, Alexandre Behring, Mario Cunha Campos e Pedro Batista.