Título: Aldo Rebelo paga para ver
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2005, País, p. A3

Pressionado por todos os lados, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB) decidiu pagar para ver e vai manter na pauta a votação do processo de cassação contra o deputado José Dirceu (PT-SP) para a próxima quarta-feira, mesmo sem uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Aldo aposta na colaboração dos ministros do Supremo, que marcaram, para o mesmo dia, o término do julgamento do recurso de Dirceu. O presidente acredita na possibilidade de os magistrados votarem o recurso até as 16h, horário em que inicia a sessão. Assim não teria de enfrentar o desgaste de, mais uma vez, ser acusado de adiar a decisão sobre o futuro do petista. Aldo só tiraria da pauta a votação no caso de o STF se manifestar a favor do pedido de Dirceu.

- Vamos fazer tudo para que a votação ocorra no dia 30 - disse Aldo.

Ontem, o presidente teve de enfrentar a fúria de integrantes do Conselho de Ética e de várias algumas bancadas.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio (AM) anunciou que o partido não vai permitir nova data de votação para o processo, ameaçando trancar a pauta de apreciação do Orçamento. O líder do PFL, senador Agripino Maia (RN) afirmou que não se trata de uma intervenção na pauta da Câmara, mas sim ''a manifestação da oposição e da sociedade que não pode mais conviver com a procrastinação deste caso''.

Em meio à confusão, o deputado Dirceu procurou não colocar mais lenha na fogueira:

- Fechei minha boca, não falo mais nada. Estou tranquilíssimo - afirmou.

Aldo ainda foi procurado pelo presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), e pelo relator do processo contra Dirceu, deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Os parlamentares queriam da Mesa Diretora uma resposta quanto à possibilidade de intervir no julgamento do STF. Segundo a comissão, que sugeriu a cassação de Dirceu num placar de 13 votos a favor contra um, houve uma interpretação errada do presidente daquele tribunal, Nelson Jobim, quanto ao voto de Cezar Peluso.

- Está claro que Peluso não votou com o mérito da defesa. Apenas pediu que fosse retirado o trecho contaminado e sugeriu releitura no plenário. Só isto, não uma refeitura do processo - afirmou Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Aldo pediu parecer da assessoria da Mesa. A avaliação foi de que a presidência não poderia fazer nada e não haveria embasamento legal para questionar o STF antes do término do julgamento. Informado da ilegalidade, o Conselho de Ética da Câmara resolveu desacelerar os ataques ao Supremo, direcionados, principalmente, ao presidente do STF, ministro Nelson Jobim.

- Extrapolou em suas funções. Não cabia a manifestação dele, antes mesmo que outros se manifestassem. Está claro que ele acabou conduzindo os outros votos - avaliou Delgado.

À tarde, integrantes se reuniram a portas fechadas e fizeram um ''memorial descritivo das atividades do conselho'', que será entregue hoje ao STF.

Na segunda-feira, Ricardo Izar e outros parlamentares pretendem ir ao tribunal para fazer um apelo. Querem explicitar que o veredito afetará os trabalhos investigativos.