Valor Econômico, v. 20, n. 4972, 01/04/2020. Brasil, p. A2

Mandetta diz que vírus está chegando às favelas

Fabio Murakawa
Rafael Bitencourt 


O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou ontem que o avanço da transmissão do coronavírus no país se aproxima da fase de chegada da pandemia à faixa da população de menor renda. Ele pediu que a população continue seguindo as recomendações dos governos estaduais sobre confinamento e restrição de circulação, criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro. E elogiou a condução dada por São Paulo, governado por João Doria, desafeto do presidente, no combate à epidemia.

“Vamos, agora, perceber como vai ser a entrada desse vírus nos grandes conglomerados de área de exclusão, as favelas”, disse em coletiva no Palácio do Planalto. “Aí vamos ver o que plantamos nesses anos todos”, afirmou, referindo-se às condições de vida nesses locais. Mandetta afirmou que a predominância de jovens é uma vantagem para as comunidades de baixa renda no enfrentamento da pandemia do coronavírus. “Pode fazer efeito rebanho, com mais imunizações, mais rápidas”, disse.

Ontem, o Ministério da Saúde divulgou que o número de mortes pela covid-19 no Brasil subiu a 201. Foram 42 mortes em 24 horas, um número recorde desde que a pandemia desembarcou no país. Mandetta disse ainda não saber precisar quantos mortos a doença causada pode deixar no Brasil. Mas o risco de “saturação total” dos leitos de UTIs preocupa. “Por enquanto, é manter as ordens, as orientações de secretarias estaduais, dos governos estaduais. Mantenham [as ordens] porque nós estamos nos preparando. A luta é grande, é uma luta de fôlego. Nós vamos ter que ter muita resiliência, muita paciência para sair dela”, afirmou.

O ministro, cujo protagonismo na crise incomodou Bolsonaro, segue tutelado pelos ministros militares do Planalto. Antes da entrevista coletiva, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, pediu aos jornalistas que dirigissem perguntas também a outros ministros presentes - Sergio Moro (Justiça), Paulo Guedes (Economia) e Walter Braga Netto (Casa Civil). Os jornalistas também foram impedidos de questionar Mandetta na coletiva em que ele apresentou os dados atualizados.