Título: Internet, este ser ainda estranho
Autor: Marcela Canavarro
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

Pesquisa aponta que 68% dos brasileiros nunca acessaram a rede

SÃO PAULO - Enquanto as empresas indicam que as vendas pela internet diminuíram custos do negócio e ajudaram a acompanhar os passos da concorrência, os consumidores ainda se mantêm reticentes quanto à adoção do comércio eletrônico. Quase 60% dos internautas brasileiros ainda têm medo de usar a rede para fazer compras e apenas 20% deles utilizaram este tipo de serviço no último ano. Este número representa apenas 6,38% dos brasileiros com mais de 10 anos de idade.

Os dados foram divulgados ontem pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, que realizou, em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ibope/NetRatings e o Instituto Ipsos-Opinion, a mais ampla pesquisa já realizada sobre o uso de tecnologias da informação e comunicação no país.

O estudo indica que os hábitos de compra na rede seguem um padrão semelhante aos indicadores de uso da internet: pessoas de famílias e regiões mais ricas fazem mais compras online do que aquelas de classes e regiões pobres. De forma semelhante, pessoas jovens compram mais do que as mais idosas.

Entre as companhias, os principais estímulos apontados para as vendas pela internet foram o menor custo de negócios (74%), o acompanhamento dos passos da concorrência (73%) e a maior qualidade de serviço para o consumidor (70%).

A pesquisa mostra, no entanto, que ainda falta comprometimento do setor corporativo com o fomento da cultura de vendas online. Nos últimos 12 meses, 41% das companhias ainda não tinham sequer um website disponível aos clientes. O estudo ouviu 2.030 empresas e 8.540 domicílios em agosto e setembro deste ano.

Ao despreparo das empresas, soma-se à ineficácia de políticas públicas de inclusão digital: 44,5% da classe B e 83,9% da classe C, camadas da população que constituem potenciais consumidores, ainda não têm computador. Do total da população, 55% nunca utilizaram um computador e 68% nunca acessaram a rede.

- Este quadro é bastante compatível com a distribuição de renda do país. A posse do computador tem muita relação com o grau de desenvolvimento - afirmou o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Rogério Santana.

Enquanto a penetração de rádio e TV passa dos 90% no Brasil, os computadores de mesa chegam a 16,6% dos lares e, entre as 15 sub-areas pesquisadas, as sete mais bem equipadas ficam nas regiões Sul e Sudeste, além do Distrito Federal. Os indicadores mostram que falta a presença do estado para solucionar a má distribuição de renda no país. Escolas e telecentros somam 6% dos acessos à internet dos brasileiros.