Título: João Paulo culpa Delúbio Soares e pede absolvição
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2005, País, p. A4
Depois de esperar pacientemente durante três horas enquanto os colegas do Conselho de Ética bradavam contra o adiamento da votação do caso José Dirceu no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) mostrou ontem aos colegas que tem muito prestígio. E que irá usá-lo como uma poderosa arma na luta para conseguir a absolvição. Durante as quase seis horas de depoimento, o petista recebeu abraços do presidente de seu partido, Ricardo Berzoini (SP), e ouviu um contundente discurso de defesa do deputado Mussa Demes (PFL-PI). Constrangido, o relator do processo de cassação, Cézar Schirmer (PMDB-RS) reformulava perguntas que poderiam soar mal e até pedia desculpas em questões mais incômodas. No entanto, João Paulo Cunha deixou algumas questões pendentes. Sobre os R$ 50 mil de que foi beneficiário, ele afirmou que o procedimento foi normal.
¿ Aonde um político deve buscar recursos senão no tesoureiro do seu partido? Foi por orientação do tesoureiro do PT (então Delúbio Soares). Eu vou pagar por este episódio, mas não culpem a minha mulher. Ela só foi sacar o dinheiro a meu pedido. Não posso ser acusado de caixa 2. Não tinha nem caixa 1. Não era candidato a nada.
Mas o ex-presidente da Câmara não soube explicar a ordem numérica das notas emitidas pelo pagamento de pesquisas de opinião nas regiões paulistas de Osasco, Carapicuíba, Jandira e Cotia. O dinheiro que pagou as pesquisas veio da conta da agência de publicidade SMPB no Banco Rural, sacado pela esposa de João Paulo, Márcia Regina Cunha. As notas fiscais de número 151, 152 e 153 datam, respectivamente, de 10 de setembro, 30 de setembro e 19 de dezembro de 2003. Schirner estranhou a seqüência, pois transparecem que Datavale Pesquisas, Comunicações e Sistemas não teria emitido notas por três meses seguidos. As notas foram emitidas em nome do próprio João Paulo.
O relator Schirmer questionou ainda as diferentes versões dadas desde que o nome de Márcia Regina apareceu na lista de sacadores do Banco Rural. João Paulo alegou que tinha ¿convicção¿ de que o recurso era proveniente do tesouro do PT nacional. À época, ele disse que a esposa tinha ido ao banco apenas resolver pendências relativas a faturas de TV a cabo.