Valor Econômico, v. 20, n. 4972, 01/04/2020. Brasil, p. A4

Investimento público em 2019 não repôs depreciação

Fabio Graner 


União, Estados e Municípios investiram em 2019 menos do que o necessário para ao menos repor a depreciação dos seus ativos. De acordo com números do Tesouro Nacional divulgados hoje, além de o investimento público do conjunto dos governos ter caído 3,2% no ano passado, na comparação com 2018, houve aumento no “consumo de capital fixo” de 3,9%.

Dessa forma, o Brasil teve um investimento líquido negativo de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), o pior resultado da série iniciada em 2010 e só repetido em 2017. Em valores nominais, o saldo negativo foi de R$ 28,9 bilhões no ano passado.

Investimentos são gastos que geram ativos que podem ter algum retorno futuro. É o caso da construção de estradas ou de hospitais, que hoje são tão necessário para o combate à crise do coronavírus e cuja carência de oferta de leitos e respiradores tem exigido um enorme esforço do governo para que sejam supridas.

Das três esferas de governo, apenas o conjunto das prefeituras teve um volume de investimentos superior à depreciação de ativos existente, em R$ 4,7 bilhões. No governo federal, o saldo negativo foi de R$ 20,1 bilhões, e nos Estados, de R$ 13,4 bilhões.

Além da depreciação dos ativos, houve venda de capital fixo no governo geral, no total de R$ 9,9 bilhões, o que aumenta o saldo líquido negativo dos investimentos. Mesmo sem isso, o volume de investimentos ficaria abaixo do necessário para pelo menos manter o capital.

O resultado do ano passado só não foi pior porque no quarto trimestre houve crescimento dos investimentos. Nesse período, houve reforço do caixa da União, Estados e Municípios por conta do leilão das áreas da cessão onerosa do pré-sal.

Sem considerar vendas de ativos, o governo federal conseguiu cobrir a perda de valor de seu capital fixo existente. Estados e Municípios, entretanto, tiveram um desempenho bem melhor do que a União.