Correio Braziliense, n. 21836, 29/12/2022. Política, p. 4

Haddad: novas integrantes e olho no Brics

Henrique Lessa


O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concluiu ontem os anúncios da equipe que formará o primeiro escalão da pasta. Duas mulheres foram as indicadas para compor a equipe do petista: a diplomata e economista Tatiana Rosito, que assumirá a Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério, e a servidora de carreira da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Fernanda Santiago — que chefiará a Assessoria Jurídica Especial do Ministério.

A escolha de Tatiana reforça a sinalização do futuro governo em buscar uma reaproximação com os organismos que compõem o Brics — bloco econômico formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. Na apresentação, Haddad ressaltou esse aspecto.

“A Tatiana vem desse banco. Morou 10 anos na China e a última função que ela exerceu lá foi justamente em relação ao banco de desenvolvimento. Estamos trazendo uma pessoa que tem uma larga experiência em China, em Brics, nos interessa muito a experiência que ela acumulou lá”, apontou.

Tatiana foi assessora de Pedro Parente quando era ministro da Casa Civil, no governo Fernando Henrique Cardoso, e, conforme ressaltou Haddad, “passou pela Petrobrás na China e passou pelo banco do Brics” — o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), sediado em Xangai.

“Ou seja, ela conhece essa relação como poucas pessoas. É uma das razões pelas quais nós a trouxemos para a equipe”, afirmou.

OCDE

A ênfase no Brics indica que o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) pode ser reconsiderado pelo próximo governo. A inclusão no chamado “clube dos países ricos” foi uma das principais metas da gestão de Paulo Guedes à frente da Economia.

“Em relação à entrada do Brasil na OCDE, isso é uma política que vai ser definida pelo governo, não pelo ministério da Fazenda. Vamos estar na mesa para discutir esse assunto, mas é uma decisão de governo que, certamente, vai ser reconsiderada pelo presidente Lula, que conhece esse assunto”, salientou Haddad.

O futuro ministro aproveitou a apresentação das duas novas integrantes da equipe da Fazenda para enfatizar que o novo governo manterá diálogo aberto com todos os organismos multilaterais internacionais. Ao comentar a escolha do economista Ilan Goldfajn para o comando do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) — contestada pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que acabou se afastando dos grupos de trabalho da transição devido à má repercussão das restrições feitas ao nome indicado pelo governo Bolsonaro —, Haddad observou que trata-se de questão superada.

“Me dou muito bem tanto com o BID quanto com atual presidente, que é o Ilan. Temos mantido contato e a primeira coisa que ele fez, ao ser eleito, foi se colocar à disposição do novo governo para contribuir com o aquilo que o Brasil precisasse. Ele tem um olhar para o desenvolvimento regional. Não tem a menor chance de termos qualquer problema nesse front”, garantiu.