Correio Braziliense, n. 21836, 29/12/2022. Política, p. 5

Silêncio e desencontro sobre viagem



A possível ida de Jair Bolsonaro (PL) aos Estados Unidos tornou-se motivo de controvérsia, apesar de faltarem apenas 72 horas para a conclusão do atual mandato presidencial. Ninguém no Palácio do Planalto confirma a viagem ao exterior, tampouco a data que realizará. Porém, o Diário Oficial da União (DOU) dá indicações de que realmente acontecerá.

Segundo a edição de ontem da publicação, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) designou a sargento do Exército e agente de segurança pessoal da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI, Aline Amâncio Oliveira, para viajar a Miami, no estado norte-americano da Flórida, a fim de fazer a “segurança familiar” de Bolsonaro. A partir da militar estava marcada para ontem.

Além da agente de segurança, Letícia Firmo, de 20 anos, filha mais velha da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, embarcou em um voo comercial com destino a Orlando, também na Flórida. Laura, 12 anos, filha mais nova do presidente, também esteve na cidade norte-americana. No início desta semana, fontes próximas à família chegaram a afirmar que a Michelle não o acompanharia na viagem.

Bolsonaro, porém, chegou a negar que sairia do país, assim como disse que também não haveria reunião de despedida, no Palácio da Alvorada. “Reunião de despedida? Fake. Também não viajo amanhã. Fake”, afirmou, em entrevista à CNN, na última terça-feira.

Estratégia

Para o mestre em ciência política e professor do Ibmec-DF Danilo Morais, o mistério pode ser estratégico. “Evita que partidos de oposição se adiantem requerendo medidas judiciais que atrapalhem seus planos, já que investigados podem ter sua mobilidade reduzida com vistas à preservação do desfecho de eventuais processos criminais. Também evita que passe recibo de fuga ou de abandono aos seus apoiadores mais leais, amontoados em quartéis Brasil afora”, salienta.

Segundo o cientista político Valdir Pucci, a publicação no DOU pode indicar que Bolsonaro tenha a intenção de deixar o país, mas que pode recuar na última hora. “O presidente é dado a rompantes. Mas ficou ruim perante seus apoiadores a notícia da saída pouco antes da posse, ainda mais com esses grupos acampados nas portas dos quartéis, fazendo atos antidemocráticos. Pode ser que mude de ideia e permaneça no Brasil. Mas a ida da agente pode caracterizar uma saída do presidente até o final desta semana”, diz.