Título: Estudo recomenda Angra 3
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2005, Economia & Negócios, p. A20

Consumidor teria energia mais barata, diz documento entregue a ministros

A usina nuclear Angra 3 poderá ser construída em um prazo de sete anos e gerar energia a R$ 140,91 por megawatt/hora (MWh). Pelo menos é o que conclui um estudo produzido pela consultoria Excelência Energética, que identifica a competitividade do empreendimento se comparado a uma termelétrica nova a gás e até a hidrelétricas localizadas nas regiões Norte e Centro Oeste do país.

Produzido sob encomenda da Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Atividades Técnicas e Industriais na Área Nuclear e Térmica (Abdan), o documento foi enviado a todos os representantes de ministérios no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que se reuniu ontem, em Brasília. O estudo foi elaborado em resposta aos números apresentados pela ministra Dilma Rousseff na última reunião do CNPE, quando ainda ocupava a pasta de Minas e Energia, hoje comandada pelo ministro Silas Rondeau.

Na reunião, realizada em março, a ministra apresentou um relatório produzido pelo Ministério de Minas e Energia, que praticamente condenava Angra 3 por inviabilidade econômica. O documento do ministério afirmava, por exemplo, que a usina não ficaria pronta em um prazo inferior a nove anos. Além disso, dizia que a energia de Angra 3 sairia a R$ 187,58 e que a usina, se financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), teria um prazo de oito anos, no máximo, para ser amortizada.

O consultor José Said de Brito, da Excelência Energética, afirma que os R$ 140,91 apontados pelo novo relatório garantem à Angra 3 competitividade suficiente em relação às termelétricas e até mesmo a hidrelétricas localizadas longe dos principais centros de consumo da região Sul-Sudeste. No caso dessas hidrelétricas, Angra 3 leva uma vantagem de R$ 7/MWh, entre outros motivos, por não necessitar de longas linhas para transmissão da carga. Uma nova termelétrica a gás natural, por sua vez, gera energia, em média, ao custo de R$ 135 a R$ 145/MWh.

- Não dá para se analisar a competitividade de uma usina, seja ela qual for, só pela capacidade de geração. Precisa levar em conta investimentos em transmissão - afirma o consultor, que reconhece, no entanto, que o prazo a que chegou para construção da usina supera em seis meses o apresentado pela Eletronuclear, de seis anos e meio. Mesmo assim, não chega aos nove anos ditos pela ministra.

Apesar da impossibilidade de Angra 3 começar a operar até 2010, mesmo com sua construção a partir de janeiro de 2006, Brito argumenta que o risco de racionamento não se esgota no fim desta década. Segundo ele, a retomada de uma trajetória de crescimento sustentável depende de investimentos na expansão da capacidade de geração do país.

A necessidade é tamanha, segundo ele, que um ciclo de crescimento continuado a 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) já amplia o risco de racionamento em 2009. Especialistas advertem que, para crescer com distribuição de renda, o Brasil precisaria de um ciclo continuado de taxas acima de 5%.

Já foram gastos, desde a década de 80, o equivalente a US$ 750 milhões na aquisição de parte dos equipamentos necessários para a usina. Desde então, com a polêmica em torno do projeto, a manutenção desse maquinário tem demandado outros US$ 20 milhões por ano.