O Globo, n. 32557, 26/09/2022. Economia, p. 11

Transição energética

Glauce Cavalcanti
Bruno Rosa


Em 2023, mais de 90% do aumento previsto da geração de energia no Brasil virão de fontes solar e eólica, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Juntas, vão responder por 10,97 gigawatts (GW) de um total estimado em 12,14 gigawatts.

Um conjunto de fatores puxa a expansão, contam especialistas. Além da entrega de potência contratada em leilões passados, a demanda por energia mais barata e limpa impulsiona o avanço e atrai o interesse de grupos estrangeiros.

Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), diz que a tendência é manter esse ritmo e saltar a reboque da transição energética:

— A tendência é seguir nesse nível alto até 2027 ou 2028, e depois ir subindo com a ascensão das commodities verdes. Eólica e solar são fontes que responderão pela oferta energética do país, ainda mais com a entrada de veículos elétricos e do hidrogênio verde.

Em 2022 essas fontes devem abocanhar dois terços da nova potência operada, com 3,73 GW de 5,65 GW ao todo. De um ano para o outro, a potência adicionada por parques eólicos vai crescer 2,3 vezes, com mais 4,58 GW. Já em usinas fotovoltaicas, o acréscimo será 3,5 vezes maior que em 2022, com 6,38 GW.

Para executivos do setor, o cenário político e o ambiente regulatório no Brasil, mesmo neste ano de eleições, não representam risco a essa trajetória de expansão. Ao contrário, sobretudo após a guerra na Ucrânia. É que, comparativamente a outros países com potencial em renováveis, o cenário é mais favorável no Brasil.

‘Brasil precisa crescer’

Jovanio Santos, de Assuntos Estratégicos da Thymos Energia, calcula que, considerando projetos outorgados pela Aneel, essas fontes poderiam bater R$ 318 bilhões em investimentos até 2027.

— Do total, R$ 70 bilhões têm chance maior de saírem do papel por serem mais viáveis, estarem em construção, com grande possibilidade de conexão ao SIN (Sistema Integrado Nacional). Teve uma “corrida do ouro” este ano em solar porque a partir de 2023 acaba o desconto na tarifa de uso do sistema de distribuição. Ele alerta para a economia:

— O Brasil precisa voltar a crescer de forma contínua para ter demanda energética puxando a expansão da matriz.

Ainda assim, pelas condições naturais para solar e eólica, destaca Elbia, o país se tornou destino atrativo e competitivo para investimento de empresas mundiais do setor.

Aurélien Maudonnet, CEO da Helexia Brasil, subsidiária da francesa Voltalia e que atua em eficiência energética, diz que os projetos no Brasil tendem a sermais rentáveis ante a Europa por haver mais espaço e disponibilidade de fontes:

— Do lado econômico, o setor de energia renovável é estruturado e cresce fortemente. A capacidade de solar foi de 13 gigawatts para 19 gigawatts este ano. Depende pouco de quem chega ao poder.

A Enel Green Power (EGP), da italiana Enel, é líder em eólico e solar no Brasil. Em 2021, iniciou a operação de quatro empreendimentos, somando 1gigawattdecapacidadeinstalada, incluindo o parque eólico Lagoa dos Ventos (PI), o maior sul-americano e o maior de toda a Enel. Ano passado, a EGP investiu R$ 4,5 bilhões em eólica e solar no país. De 2022 a 2024, a Enel Américas prevê adicionar 3,5 gigawatts em capacidade renovável na América Latina, sendo 2 gigawatts no Brasil, com US$ 2,2 bilhões em investimento.