O Globo, n. 32558, 27/09/2022. Política, p. 9

Polícia vê motivação política em mortes no Ceará e em Santa Catarina

Luísa Marzullo
Paulo Assad


O fim de semana que antecedeu as eleições presidenciais foi marcado por pelo menos dois episódios de violência por motivação política. De acordo com a polícia, dois homens foram assassinados — um apoiador de ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Cascavel, no Ceará; e outro do presidente Jair Bolsonaro, no Vale do Itajaí, Santa Catarina. A escalada da violência é uma preocupação dos Tribunais Regionais Eleitorais. Na semana passada, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, autorizou o envio das forças federais para 561 localidades de 11 estados, informou o Valor. Todas as decisões precisam ser referendadas pelo plenário da Corte.

Ontem, a Polícia Civil do Ceará prendeu preventivamente Edmilson Freire da Silva, de 59 anos, suspeito de matar a facadas um homem de 39 em um bar em Cascavel após a vítima se identificar como eleitor de Lula. O crime ocorreu no último sábado, quando Silva, conforme testemunhas contaram ao jornal O Povo, chegou ao local e gritando “quem é eleitor do Lula aqui?”. Após a vítima responder: “Eu sou!”, ele teria desferido os golpes. A vítima, que não tinha antecedentes criminais, chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.

A polícia classificou o crime como homicídio qualificado. O suspeito já tem passagens pela polícia por violência doméstica. Segundo as autoridades, Edmilson Freire já prestou depoimento e encontra-se à disposição da Justiça.

No domingo, Hildor Henker, de 34 anos, morreu no Hospital Regional de Rio do Sul, no Vale do Itajaí, onde passou por cirurgia após ser esfaqueado no dia anterior, também numa briga de bar. Segundo a Polícia Militar, houve motivações políticas e também havia desavenças familiares antigas. Henker se declarava apoiador de Bolsonaro nas redes sociais.

Foz do Iguaçu

O autor dos golpes, que não teve a identidade revelada, está foragido. Segundo a PM, ele tem 58 anos e passagens pela polícia por lesão corporal e injúria. Após o crime, contam os policiais, ele informou à mulher sobre o ocorrido e fugiu. De acordo com testemunhas, a vítima e o assassino bebiam juntos quando, em determinado momento, passaram a discutir. O autor da facada deu um tapa no rosto de Henker antes de levá-lo para fora do estabelecimento, onde o golpeou. A facada atingiu a artéria femoral.

Nas redes sociais, Eunice Henker, irmã da vítima, lamentou o “homicídio por causa de política”.

Em julho, um caso em Foz do Iguaçu chocou o país. O agente penal Jorge José da Rocha Guaranho, apoiador do presidente Bolsonaro, matou a tiros o guarda municipal e petista Marcelo Arruda, que comemorava seu aniversário de 50 anos. Excandidato a vice-prefeito na chapa do PT de 2020 na cidade, Arruda fazia uma festa com tema do partido quando foi alvejado por Guaranho, na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu

Guaranho é acusado por homicídio qualificado pela morte do dirigente. Em agosto, a Justiça revogou a prisão domiciliar do policial penal e determinou a transferência dele para o Complexo Médico Penal (CMP) de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Ele estava em prisão domiciliar e sendo monitorado por tornozeleira eletrônica porque a Justiça havia atendido o pedido da defesa do acusado após receber ofício da direção da unidade médica que afirmara não ter condições estruturais, técnicas e de pessoal para prestar o atendimento necessário para manutenção da vida de Guaranho.