O Globo, n. 32558, 27/09/2022. Política, p. 12

Rixas à direita pelo Senado têm “traição” no zap e briga familiar

Gabriel Sabóia


Na reta final da disputa pela vaga do Rio ao Senado, adversários centram a artilharia contra o líder das pesquisas de intenção de votos, o senador Romário (PL). Entusiastas do presidente Jair Bolsonaro (PL), que se apresentam como defensores de pautas mais conservadoras, afirmam que o ex-jogador vai trair a ideologia bolsonarista, caso Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito presidente, passando a votar de acordo com os interesses de um eventual novo governo. Em grupos de Whatsapp circulam mensagens pedindo para que os votos desses eleitores sejam concentrados em Clarissa Garotinho (União Brasil) e Daniel Silveira (PTB) — que ainda tenta viabilizar a própria candidatura.

O GLOBO teve acesso a mensagens trocadas em um grupo formado por integrantes da Associação Brasileira de Juristas Conservadores (Abrajuc). Na conversa, advogados ressaltam que Romário não seria comprometido com valores da família e citam a fragilidade de seus compromissos com o bolsonarismo.

“Eu vou com Daniel Silveira”, diz um integrante. “Alguém aqui tem esperança de que o Romário seja minimamente de direita? Com certeza, a traição tá estampada na testa desse ex jogador de araque”, completa outro.

Os participantes da conversa estimulam a compartilharem os pedidos de votos nos demais candidatos da direita. Na última pesquisa Ipec para o Senado do Rio, Romário segue à frente com 33%. Na sequência, aparecem Alessandro Molon (PSB) com 11%, em quanto Clarissa tem 10%. Daniel Silveira segue com 7%, enquanto tenta se viabilizar, e Cabo Daciolo tem 6%, mesmo percentual de André Ceciliano (PT).

Bolsonaro, entretanto, não garantiu que trabalhará para eleger Romário, que é seu correligionário. Na semana passada disse que “mais tarde um pouquinho, a gente decide por um nome no Senado.”

Silveira vai para o ataque

Com a candidatura ao Senado indeferida pela Justiça Eleitoral, Silveira viralizou domingo em um áudio compartilhado em grupos de Whatsapp e Telegram, além de postagens em redes sociais. Nele, o parlamentar reforça que Romário trairá Bolsonaro, caso obtenha êxito nas urnas. Ele defende a tese de que precisa de votos para “ser eleito” e, à frente, brigará na Justiça para ter a sua eleição validada.

Silveira teve a candidatura indeferida pelo Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) por condenação criminal no Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar foi condenado por incentivar, em postagens nas redes sociais, a invasão do STF e agressões físicas aos ministros.

— Vocês não vão ver o Romário lutar contra os abusos do Judiciário. Ele vai votar contra o governo e trair o presidente. Ele sequer usa material de campanha do presidente —afirma Silveira.

Questionado pelo GLOBO em relação ao apoio a Bolsonaro, em entrevista concedida no início do mês, Romário se disse conservador e afirmou lealdade ao presidente.

— Bolsonaro sabe que estarei ao lado dele na hora do jogo. E a hora é agora, a reta final. Desde o primeiro dia de campanha, distribui materiais do Bolsonaro. Quando o Bolsonaro precisar de mim, da minha voz e da minha força política, sabe que poderá contar. Em mais de 90% das pautas que caíram no Senado, votei com ele —ponderou.

Romário também tem sido alvo de Clarissa Garotinho, que chegou a afirmar que ele “passou os últimos oito anos jogando bola”. Desde que teve a sua candidatura ao Senado oficializada pelo União Brasil, a deputada federal declarou alinhamento irrestrito ao bolsonarismo e endureceu o discurso, com críticas ao STF e bandeiras como a castração química de pedófilos e abusadores sexuais. Clarissa também passou a frequentar eventos com o governador do Rio, Cláudio Castro, que é correligionário de Bolsonaro e Romário, que era o seu principal alvo de críticas.

Casos de família

Pai de Clarissa, o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (União) fez críticas públicas ao próprio filho, o prefeito de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, Wladimir Garotinho, que apoia a reeleição de Castro. Em um vídeo de circula nas redes sociais, Garotinho afirma que o filho não estaria engajado na campanha de Clarissa, se diz traído e afirma que a prefeitura de Campos obriga servidores a apoiarem candidatos do seu interesse.

— O prefeito está liberando pessoas que ocupam cargos de confiança na prefeitura, alguns sendo até ameaçados, caso não votem nos candidatos que esse grupo quer. Você, Wladimir,ao invés de se preocupar com isso, devia ajudar a sua irmã, Clarissa, que é candidata a senadora — afirma o ex-governador, que continua — Não devia virar as costas para mim, como você fez. Mas, eu não sou covarde. (...) É muito duro sofrer traição de pessoas que você ajuda a crescer, pessoas que você incentiva e faz subir. Isso dói demais.