Valor Econômico, v. 20, n. 4972, 01/04/2020. Agronegócios, p. B9

Embrapa faz parceria com Korin e se aproxima do consumidor

Rafael Walendorff 



Mostrar aos consumidores dos centros urbanos a importância da pesquisa agropecuária no dia a dia e agregar valor aos produtos com tecnologia nacional. Esses são os objetivos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em uma parceria com a Korin. A medida também é mais uma ação de aproximação da estatal com o setor privado.

Ovos caipira livres de antibiótico produzidos e comercializados pela Korin serão os primeiros produtos a receber um selo para identificar que foram desenvolvidos a partir de pesquisas da Embrapa. As embalagens terão a marca “Tecnologia Embrapa” e serão vendidas diretamente nas gôndolas de 11 pontos de varejo no Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal a partir deste mês de abril.

Os ovos caipira avermelhados são produzidos a partir da poedeira colonial 051, uma galinha híbrida e rústica desenvolvida por pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves desde 1988 que chegou ao mercado em 2001. O foco era que a novidade fosse direcionada à agricultura familiar, como alternativa às genéticas caras do exterior usadas por grandes granjas do país. Mas, com boa adaptação, a ave passou a atender nichos como a produção orgânica de portes maiores. É essa a tecnologia da estatal que será identificada no rótulo dos ovos da Korin.

A marca “Tecnologia Embrapa” já existia, mas era utilizada apenas por empresas licenciadas em produtos que geralmente não chegam às prateleiras dos supermercados.

Daniel Trento, secretário de Inovação e Negócios da Embrapa, diz que a percepção da existência da pesquisa agropecuária em produtos consumidos em larga escala no Brasil ainda está “muito distante”, e que ações dessa natureza podem encurtar o caminho. “Tem Embrapa no café da manhã, no almoço e no jantar, do ovo caipira à cerveja. A sociedade pode entender que estamos presentes ajudando a resolver problemas”.

“É importante que o consumidor enxergue que, além do trabalho da cadeia dos produtores e empresas, existe esforço de manutenção de banco genético no Brasil”, afirma o chefe de Transferência de Tecnologia da unidade de Suínos e Aves da Embrapa, responsável pela pesquisa. Ele estima que 8% do mercado brasileiro de ovos avermelhados usam a tecnologia da estatal.

A primeira fase da parceria com a paulista Korin prevê uma ação de validação comercial na qual a Embrapa quer medir o conhecimento de seu trabalho pelo consumidor. “Mas o objetivo final é ter exploração comercial, e que os royalties voltem para fortalecer o caixa da pesquisa”, diz Anderson Alves, gestor de Ativos da estatal. Ele conta que duas ações semelhantes estão planejadas para este ano na área de frutas e hortaliças.

Já para a Korin, a iniciativa tem potencial de validar sua linha tradicional de trabalho, voltada à “agricultura natural” e adotada já há 25 anos. “A parceria pode ajudar a conscientizar os consumidores de que é possível produzir de forma sustentável, sem afetar a produtividade e atender ao mercado. Que o consumidor entenda que essas diferenciações [produção orgânica] são feitas com base em tecnologia, e não em algo poético que não serve para alimentar o mundo, que é só para super ricos”, afirma Luiz Carlos Demattê, diretor superintendente da Korin Agricultura e Meio Ambiente.

A empresa é pioneira na criação de frango sem antibióticos e promotores artificiais de crescimento. Também produz cortes bovinos, de aves e de peixes, arroz, feijão, café, grão de bico, mel, fertilizantes, água e farinhas de mandioca e de milho.

O pesquisador Elsio Figueiredo coordena trabalhos de melhoramento genético da poedeira 051 em Concórdia (SC). De acordo com ele, o contato mais próximo com quem multiplica e consome as tecnologias da Embrapa também pode colaborar para direcionar melhor a pesquisa. “O mercado é mais ágil, mas agrega visões que voltam como novas demandas”.